Professora da USP é forçada ao exílio por pesquisar agrotóxicos

por William Dunne

Uma professora do Departamento de Geografia da USP, Larissa Mies Bombardi, que pesquisa o uso de agrotóxicos no Brasil, está sendo perseguida e forçada ao exílio. Em uma carta aos colegas do departamento a que O Partisano teve acesso, Larissa denuncia que passou a ser intimidada depois do lançamento do Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, em abril de 2017. A pesquisa da professora levou a maior rede de produtos orgânicos da Escandinávia a suspender a compra de alimentos do Brasil, atingindo, portanto, interesses econômicos do chamado “agronegócio”.

Na carta, a pesquisadora pede um afastamento para sair temporariamente do Brasil. Como nos tempos da ditadura militar, intelectuais começam a se sentir compelidos ao exílio sob um clima de opressão e ameaça. Larissa menciona que tem “prova de todas as informações que menciono nesta carta. Desde o Boletim de Ocorrência até as cartas e artigos intimidatórios”. Entre os artigos que atacam o trabalho da professora, Larissa destaca um de autoria de Xico Graziano, publicado no portal Poder 360.

Em seu trabalho de campo, a pesquisadora foi orientada a mudar de trajetos e rotina, para evitar eventuais ataques. E deixou de comparecer a um evento acadêmico em Chapecó, devido ao risco que isso passou a representar a partir da perseguição ao seu trabalho. Em seu relato na carta, Larissa Bombardi pergunta: “Eu me perguntava: como uma mulher, mãe de dois filhos, única responsável pelas crianças e pela rotina das crianças poderia mudar algo na rotina?” Porém, a mudança de rotina teve que acontecer, e a professora passou a ficar por certos períodos em casa diversas, evitando morar em sua própria residência.

Censura e perseguição

Esses acontecimentos vêm na esteira de uma escalada de perseguição à intelectualidade e aos acadêmicos no país, como nos casos do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, que se matou, perseguido pela delegada Érika Marena, em um inquérito que a PF encerrou por falta de provas. Marena foi coordenadora da operação Lava Jato. Ou no caso mais recente do ex-reitor Universidade Federal de Pelotas, Pedro Halal, processado pela Controladoria Geral da União por criticar o presidente Jair Bolsonaro em uma live no canal da Universidade.

Em fevereiro, o MEC tentou oficializar a perseguição política enviando um ofício aos coordenadores das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) para reprimirem determinadas atividades no âmbito das instituições. Isso foi amplamente denunciado, levando o governo a recuar por enquanto. Mas o ímpeto censor é evidente. A liberdade de expressão e a ciência estão ameaçadas sob o governo Bolsonaro, o que demanda resistência da parte da sociedade e solidariedade a cientistas, professores e pesquisadores.

13 comentários

  1. Importante (e tristíssima, revoltante) notícia!! Só atento para um erro que encontrei: o ano de publicação do Atlas foi 2017, não 2019. Seria importante corrigir na matéria, para não deixar o dado errado e não tirar a credibilidade da publicação

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  2. Isso e absurdo e deplorável desgoverno que temos, temos que bater de frente com esse governo. Todo apoio a Professora Larissa Mies Bombardi

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  3. Conheço o trabalho dela. Feito com muita responsabilidade. Absurdo o que está acontecendo no nosso país. Um genocida no poder e os que o apoiam São pessoas da pior espécie, principalmente estes que ameaçam a professora. Até quando vamos aguentar estes seres malignos pintando e bordando no Brasil?

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  4. Em 1988 consegui comprar o livro “O futuro roubado” organizado por Theo Calborn, Dianne Dumanoski e John Myers. Sou de uma família de bóias-frias, então desde menina já tinha presenciado mortes, intoxicações graves e invalidez devido às intoxicações com venenos utilizados nas lavouras onde nossa comunidade trabalhava. Mas foi somente depois de estudar Agropecuária pesquisando fora da Escola Agrícola que obtive informações em relação aos malefícios dos venenos usados nas roças e também sobre as casas das pessoas que moram na zona rural, nas áreas urbano-rurais e na forma de resíduos tóxicos em todos os alimentos e outros produtos que recebem os muitos venenos s lá no campo. Certa vez fui convidada a trabalhar vendendo venenos e recusei para surpresa de meu amigo, pois o salário era muito acima da média. Então, apesar de estarem com poder temporário, estas empresas não são imbatíveis. Mas é preciso organização e estratégias para enfrentá-las. Daí juntar várias instituições é preciso. A pesquisadora não pode ficar sozinha nesta luta.

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