[poema do nada] | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: “não tenho nada / : nem leitores nem admiradores / não tenho programa de tv / não tenho nada”

Imagem: Ceará Criolo
por Helena Arruda

não,
não tenho nada
: nem blog nem página
nem essas coisas modernas.

tenho apenas um amontoado de palavras
nos guardanapos que roubo dos bares

não,
não tenho nada
: não tenho canal no youtube
nem nada.

tenho só um amontoado de palavras
alinhavadas nas beiradas
dos livros que leio
cotidianamente
incansavelmente.
não,
não tenho nada
: nem leitores nem admiradores
não tenho programa de tv
não tenho nada.

tenho mesmo só as palavras
e um caos
e os livros que leio
e um punhado de amigos
e um gato
e uma flor no abismo
mais nada.

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.

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