Milícia, Jesus, motocicleta e rock n roll: os “filhos da Anarquia” brasileiros

Meter bronca de tribo urbana americanizada mal encarada, quando o cara cresceu no Brasil, não mete medo em ninguém, só nos faz sentir agonia por conta do calor

Milicianos Moto Clube. Imagem: Isabella Araujo
por Vinícius Carvalho
Geralmente eu puxo uma referência de série, novela ou de filme, mas como vocês não têm a obrigação de saber o que é, então tenho que contextualizar. Existe uma série lá dos IXTEITES que se chama “Sons of Anarchy”, nela uma porrada de marmanjo barbudo andando em motocão Harley-Davidson sai pela Califórnia fazendo merda de fuzil, bebendo, cometendo crimes, etc. Mas a estética dos caras é de direita e é parecidão com alguns caras aqui no Brasil.
O que é uma pena, que eu, sinceramente, curto mesmo a estética do rock e tal. Mas aí eu vi aquela PORRA que o Bolsonaro fez no domingo lá no Rio e fiquei meio bolado…
Os bolsonaristas conseguiram amarrar a estética neopentecostal com o tiozão do colete de couro que se amarra em AC/DC. Sendo que o Brasil é o país de outro tipo de motociclista, o entregador, o moto-táxi e o moto-tóxico, isso mesmo minha senhora, meu senhor, aquele motoboy que vende PÓ E MACONHA nas encostas de morros desse Brasilzão de Papai do Chão.
Lembro uma vez de um cabra desses chacoalhando no busão lotado que eu estava, o Udesc – Ticen, com toda a pinta do mundo de motoqueiro-sons-of-anarchy. O bicho lá, num calor do caralho, vestido de Harley-Davidson da cabeça aos pés e assistindo um vídeo de outros coroas barbudos motoqueiros dos EUA fazendo churrasco. Como eu sou fofoqueiro mesmo, fiquei olhando para tela do celular dele, quando o cara fechou o vídeo, uma porra de uma foto do BOLSONARO gigantesca na proteção de tela. Porque, de certa forma, para aquele brasileiro, latino americano ali, aquela estética que ele optara por vestir, era algo correlato a ideia de “liberdade reacionária”, a branquitude, ao bolsonarismo, ao direitismo e ao americanismo.
Aí lembrei de outro barbudo, aquele alemão do século XIX. O bom velhinho, Marx. O fetichismo de consumo é uma coisa tão idiota quanto acachapante… Só de sacanagem quando eu tiver de Harley-Davidson eu só vou andar fantasiado com colete de GARI. Vamos e convenhamos, até nisso o Bolsonaro é boçal. Meter bronca de tribo urbana americanizada mal encarada, quando o cara cresceu no Brasil, não mete medo em ninguém. Só hispter lenhador andando de Harley-Davidson só nos faz sentir agonia por conta do calor.
Contravenção sinistra mesmo é dos moleques de CG-125 do moto-tóxico da favela do Jacaré rodando na madrugada com o cano furado fazendo merda a noite toda, correndo de tiroteio, estourando correia de moto, entregando pizza, trabalhando sem carteira assinada, correndo risco de Covid, acidente, achaque, blitz e tiroteio. Estes sim, os legítimos filhos da anarquia…
Uma das características dessa estética é o falocentrismo e também essa cultura do machão. É a turma que ouve músicas de rock (que eu curto demais) que falam de álcool, drogas, sexo grupal e etc., mas são super cristãos e odeiam músicas brasileiras que falam disso (exceto quando a banda é Raimundos ou Velhas Virgens).
É porque infelizmente para esta turma a contracultura é algo de direita. É uma característica das classes médias urbanas, dos “incels” de outrora, quando ser “incel” ainda não era uma opção. É a classe-média urbana e ressentida por viver num país de terceiro mundo e rodeado de gente com sobrenome “Silva”. Por isso veem pirocas na entrada da FioCruz, por isso se apegam a mamadeiras de pirocas, por isso saem como um bando de néscios atrás do Bolsonaro.

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