A essa altura, PT ainda tem que lidar com os caprichos de setores da esquerda

Na miúda, PSDB tira dinheiro de velhinho e Novo assume seu lado escravocrata, mas quem tem que se retirar do universo pra fazer autocrítica é o PT

Imagem: reprodução
por Vinícius Carvalho

Tá ficando cada vez mais difícil pensar em perspectivas de país e em sair desse atoleiro imundo protofascista em que nos metemos, por causa da forma imbecil e sem foco como os debates têm sido conduzidos. Tá todo mundo achando que o Brasil virou os Estados Unidos. A direita quer que o Brasil vire o paraíso do consumo, e a esquerda quer que vire o paraíso dos costumes e militância. Só na semana de Natal, dois tipos de vilanias indigestas e inaceitáveis ocorreram aqui na Banânia e praticamente passaram batido:

1 – Doria e Bruno Pé na Covas cancelaram, no meio da maior recessão e pior paridade de poder de compra recente, a gratuidade nos transporte público para pessoas com mais de 60 anos. Com milhões de idosos vivendo de apenas um salário mínimo, ter que pagar para se deslocar impacta profundamente no seu poder de compra e qualidade de vida. É… não é só por 20 centavos…

2- Partido NOVO comemora que conseguiu anular a obrigatoriedade das empresas contratantes de entregadores disponibilizarem ÁGUA, álcool em gel e produtos de limpeza básicos para os funcionários terceirizados. Isso no meio de uma pandemia.

Tirando meia dúzia, a grande parte dos influenciadores da esquerda e da lacrolândia macunaímica, tudo tuiteiro vadio, passaram os dias PORRANDO O PT, por conta da sua polêmica com a Folha de S. Paulo. Segundo essas pessoas, na semana em que o NOVO fudeu com o precarizado e o PSDB fudeu com os idosos pobres de SP, a preocupação maior era fazer correção histórica com o PT. O PT virou simplesmente um partido racista na cabeça dessas pessoas. Acusaram o partido de “isabelismo” porque o Tarso Genro disse que foi o PT quem institucionalizou a política de cotas.

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Desse fio acusatório realizado por retardados, comparando um presidente retirante, nordestino e operário, e uma presidenta torturada, com uma porra de uma Orleans e Bragança, surge outro fio:

A acusação de que o partido foi culpado pelo encarceramento em massa e acelerou o “genocídio” do povo negro. O PT é diretamente ligado aos movimentos sociais, inclusive a miríade de movimentos negros, que obviamente foram fundamentais para a política de cotas. Mas na ânsia de se “descolonizarem”, mergulham de cabeça na colonialidade estadunidense, só falta a orelha do Mickey. Oras, uma construção que vincula partido e movimento social não é importante e uma forma sofisticada e democrática de fazer política partidária? Outra, se o PT não tem protagonismo na política de cotas, porque é seu o protagonismo então no tal “encarceramento em massa”, que veio direto do Judiciário? Judiciário este que passou 13 anos em pé de guerra com o PT.

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É prerrogativa do Poder Executivo encarcerar ou não? Se acham que sim, estudem mais. E lembrem também que o PT não caiu e foi superado pelo PSTU, PCB ou PSOL. Foi superado pelo bolsonarismo. Pelo visto, o PT foi alvo de ódio e golpe também porque no senso comum “encarcerou de menos” e foi “leniente com a bandidagem e a violência urbana”. Mas eu sei, eu sei que isso não lhes importa. Afinal, se começarem a encarar um determinado problema como adultos, como fica a lacração? Não pode, pô. Lacrar é preciso, é o objetivo. E incluo nesse espiral lacratório grande parte dos marxistas também.

E o PT, por sua vez, entrou em crise de identidade e parece ter dificuldade de sair. Está se deixando ser espancado por este tipo de discurso. Está deixando criarem a narrativa de que o partido foi “racista” mesmo. Aí depois que essa mentira repetida mil vezes virar verdade, quero ver como vai se livrar dessa pecha.

“Ahhh, Vinícius, o que você faria?”

Denunciação caluniosa e falsa comunicação de crime, é crime, artigo 339 do Código Penal. Eu processaria um por um. Acabou.

Outra coisa foi essa “aliança” com o Maia para a eleição do Congresso. Só o PT, mais uma vez, está apanhando por isso. O PT não aprende? Oras, a narrativa (assim como foi com o Boulos pós-derrota) já está pronta. Em 2022, o PT vai ficar como fisiológico porque apoiou o Maia. Mesmo que isso seja descontextualizado, que a ideia seja o isolamento do bolsonarismo, que será muito ruim se o Bolsonaro conseguir eleger o presidente da Câmara, que é importante negociar mesas e etc.

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Foda-se tudo isso. Ninguém liga.

PT tinha que lançar seu candidato próprio. Mesmo sem chance nenhuma de vitória. Só pra perder bonito com seus 60 votos e acabou. Foda-se se o Bolsonaro ganhar no Congresso e CURRAR todo mundo. O PT tem que aprender a voltar a “lacrar” também. Afinal, é só isso que importa hoje em dia. Grandes e lindas derrotas, coloridas, com Odara de Caetano ao fundo. E em 2022 possa estufar o peito e recitar “perdemos, mas detestaria estar no lugar de quem nos venceu”, e aí, obviamente, retiramos também narrativa do PSOL, de que eles são limpos e impolutos e nós, sujismundos.

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