Sergio Moro: a mídia corporativa e a paixão pela extrema direita

A revista Veja criou algo fantástico, sua capa é um santinho de Moro. Assim, o comprador da revista paga por propaganda eleitoral. Faz e nem sequer percebe

Imagem: Marcos Corrêa/PR
por Alexandre Lessa da Silva

No final de outubro, Jair Bolsonaro chegou ao ápice de sua conturbada relação com a imprensa. Em Roma, os seguranças de Bolsonaro agrediram fisicamente os jornalistas que faziam a cobertura de uma caminhada do presidente para encontrar apoiadores perto da embaixada brasileira na cidade. A violência foi algo sem precedentes na relação direta entre a imprensa e um presidente brasileiro: Bolsonaro hostilizou os membros da imprensa, o jornalista Leonardo Monteiro, do Grupo Globo, foi empurrado e levou um soco no estômago, Jamil Chade, do portal UOL, foi empurrado, levado pelo braço e teve seu celular tomado, a repórter da Folha de SP, Ana Estela de Sousa Pinto, também foi agredida fisicamente. Uma violência nunca antes vista de maneira tão crua em relação à imprensa.

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Todos sabem que a imprensa, mesmo no caso da mídia corporativa (grande mídia), é um dos alvos preferenciais da extrema direita. O que até agora ninguém percebeu é que existia um acordo tácito que estabelecia limites entre essa relação e que foi quebrado, primeiramente, por membros dessa própria mídia corporativa. Como já mostrado em outro artigo, houve um desrespeito de todos esses parâmetros com o objetivo de ridicularizar e, assim, promover a retirada do Partido dos Trabalhadores da Presidência. Entretanto, o movimento da grande mídia não percebeu que esse acordo é uma via de mão dupla, ao tentar deslegitimar o poder político, também permitiu que o poder político fizesse o mesmo com ela. O humor, a imprensa, a liberdade de expressão, todos têm limite. Assim como a mídia corporativa quebrou todos esses limites com quem sempre respeitou os parâmetros da democracia, a extrema direita quebra os limites de uma relação democrática com os órgãos de imprensa. Obviamente, são os profissionais que estão na ponta que mais sofrem com isso, mais uma razão para a condenação das bárbaras ações bolsonaristas.

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Apesar de toda essa violência, os donos dos principais veículos de imprensa não estão muito preocupados com o que acontece com seus trabalhadores. Não foi dada a atenção devida a essa agressão e a mídia corporativa, pelo que tudo indica, já escolheu seu candidato que, por sinal, continua dentro do espectro político de Bolsonaro: Sergio Moro.

Para não dizer que não há exceções na grande mídia, somente Reinaldo Azevedo afirmou sua repulsa a Sergio Moro. Reinaldo reconhece Moro como responsável pela razia no campo político que deu origem à vitória de Bolsonaro, mas constitui, apesar de sua grande audiência, uma voz solitária dentro da grande imprensa. Mesmo não estando alinhado com a esquerda, o comentarista da Band reconhece a visão democrática de Lula, coisa que não faz em relação a Moro e Bolsonaro.

Defendendo Moro e querendo esconder seu viés autoritário está praticamente toda mídia corporativa.

A Veja criou algo fantástico, sua capa é um santinho de Moro. Assim, o comprador da revista paga por propaganda eleitoral. Faz e nem sequer percebe. A Veja anuncia Moro como algo aguardado por todos, a grande “alternativa à polarização gerada pelo abismo que representa o embate entre Lula e Bolsonaro”. Junto com isso, a velha ladainha do ataque à política está de volta: “Moro chega trazendo (muita) preocupação àqueles que insistem em amarrar o Brasil ao atraso histórico do nosso patrimonialismo e clientelismo político”. A revista faz uma série de elogios ao discurso do ex-juiz e, evidentemente, coloca a luta contra a corrupção no centro de suas afirmações, avisando, contudo, que Moro não pode ser acusado de “ser um candidato monotemático”. Assim, a Veja ironicamente não consegue ver todos os defeitos presentes em seu candidato e na Lava Jato, partido informal que representa. Não consegue enxergar o juiz incompetente e parcial, responsável pelo caos que estamos vivendo.  Muito menos, consegue entender sua falta de capacidade intelectual, a ponto de não lembrar o último livro que leu, se é que leu algum além dos códigos. Mas, provavelmente, o mais espantoso é que a revista quer esconder que alguém que usou a Justiça para interesses pessoais e políticos agiu de forma corrupta. Afinal, condenou e, ilegalmente, manteve preso o principal candidato em 2018 para que Bolsonaro vencesse a eleição. Em seguida, ganhou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro. Foi acusado, por Bolsonaro, de tentar trocar o comando da Polícia Federal por uma indicação ao Supremo Tribunal Federal. Depois que deixou o Ministério, o candidato da mídia corporativa ainda entrou, como sócio-diretor, para a Alvarez & Marsal, uma empresa de consultoria que tem quase R$ 26 milhões de reais a receber de alvos da Lava Jato, operação que Moro comandava. Sem falar de todas as relações ilegais que manteve com os procuradores da Lava Jato, reveladas pelo Intercept (Vaza Jato), a Fundação Lava Jato, suspensa pelo STF e as relações, nada republicanas, com a Transparência Internacional, o FBI e outros órgãos do governo estadunidense.

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A Globo também, pelo que tudo indica, escolheu Moro como seu “conje” (sic) e candidato. A primeira entrevista, desde que começou sua campanha, ainda não oficial, foi para Pedro Bial e ainda será exibida. Resta saber se Bial fez a entrevista usando um polígrafo, como sugeriu para Lula, e se o ex-juiz será tratado da mesma maneira agressiva que os participantes da esquerda em um programa da GloboNews. A globo não divulga praticamente nenhuma agenda positiva da esquerda e faz questão de omitir toda projeção nacional e internacional que Lula tem. A Globo sempre foi privilegiada com os vazamentos da Lava Jato e não falou quase nada sobre as descobertas da Vaza Jato, uma vez que a emissora sempre foi a principal responsável pela popularidade da operação.

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São apenas dois exemplos, mas muitos poderiam ser citados, uma vez que a mídia corporativa que não promove Bolsonaro está quase toda voltada para defender a candidatura de Moro, deixando de lado a postura autoritária de Moro, como demonstrada em seu “pacote anticrime” que incluía uma licença para matar dada aos policiais. Essa postura é típica da extrema direita, assim como o discurso de uma moralidade hipócrita. Moro, com certeza, é mais comedido que Bolsonaro em público, mas não é senão um outro representante da visão autoritária da extrema direita. A falsa luta contra a corrupção foi só uma desculpa para promover o desmonte do Brasil e promover a maior de todas as corrupções, pois praticamente destruiu o país.

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A mídia corporativa continua apostando, ao apoiar Moro, na mão que a espanca. Afinal, não seria hora da grande mídia reagir e deixar de apoiar figuras autoritárias?

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