Sem lockdown, Brasil chega aos 4 mil mortos em um dia

Apelos pelo lockdown vem sendo feitos desde o início da pandemia por cientistas e pela OMS, Bolsonaro continua lutando contra essa medida

30 mil mortos esta noite: Bolsonaro baterá sua meta
Imagem: O Partisano
por William Dunne

O Brasil chegou a 4.195 mortes por Covid-19, de acordo com levantamento do Conass (Conselho Nacional de Secretários da Saúde). Só dois países registraram mais de 4 mil mortos em um único dia até aqui, EUA (com uma população maior que a brasileira) e Peru (em um dia de atualização de dados). A curva ascendente no gráfico de mortes e transmissão do vírus indica, como afirmou o divulgador científico Átila Iamarino em um desconsolado desabafo, um sucesso da política do governo Jair Bolsonaro.

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Apelos ao lockdown

Há mais de um ano, desde o começo da pandemia, a OMS recomenda o distanciamento social para conter o avanço do vírus. Mês passado, no dia 24, quando chegou-se a mais de 3.200 mortes, então número recorde, o epidemiologista Jessem Orellana, da Fiocruz do Amazonas, declarou à Agência Brasil que seria necessário um lockdown radical em vários estados para conter uma catástrofe sanitária maior. Hoje, diante do novo recorde, especialistas da Fiocruz voltaram a defender um lockdown nacional, de pelo menos duas semanas, projetando que abril será o mês mais fatal se nada for feito, superando março, com seus 66.868 óbitos registrados. Hoje também, Átila Iamarino defendeu a adoção do lockdown em artigo na Folha.

Igualmente em defesa do lockdown (de três semanas), um grupo de mais de 30 cientistas assinaram um manifesto, no dia 1º, endereçado ao presidente, aos governadores e prefeitos. A medida é defendida projetando-se evitar que se chegue à marca dos 5 mil mortos por dia em abril, poupar 22 mil vidas e impedir o surgimento de novas variantes do vírus.

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Outro cientista que vem insistindo há tempos no lockdown é o neurocientista Miguel Nicolelis. No começo do ano, em entrevista à BBC News Brasil, Nicolelis afirmou que “ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”. No dia 20 do mês passado, ele voltou a defender a medida em entrevista a O Globo, para evitar “500 mil mortes até o meio do ano” e um “colapso funerário”.

Bolsonaro contra o lockdown

Jair Bolsonaro já negou a gravidade da doença (“gripezinha”), já se negou a aparecer de máscara (quando deveria incentivar o hábito), já defendeu tratamento sem comprovação de eficácia e já falou contra as vacinas. Foi obrigado a ceder algum terreno nessas questões, mas a resistência ao isolamento continua sendo seu principal cavalo de batalha, em nome da economia.

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No entanto, mais de 1.500 economistas também assinaram um manifesto em defesa do lockdown no mês passado, denunciando que: “A controvérsia em torno dos impactos econômicos do distanciamento social reflete o falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável. Na realidade, dados preliminares de óbitos e desempenho econômico sugerem que os países com pior desempenho econômico tiveram mais óbitos de covid-19.”

Porém, se depender de Bolsonaro, o Governo Federal continuará sabotando as medidas de isolamento social dos estados e municípios. Particularmente preocupante nesse sentido foi a posse do novo ministro da Justiça, Anderson Torres, que declarou: “Neste momento, a força da segurança pública tem que se fazer presente garantindo a todos um ir e vir sereno e pacífico. Contem com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para dar esta tranquilidade”. Uma afirmação preocupante, que indica uma disposição de enfrentamento contra os governos, somado à agitação no interior das polícias militares contra os governadores. Ou seja, mostrando uma disposição de Bolsonaro de, na prática, lutar contra a redução do número de mortes para criar clima para uma tentativa de autogolpe. Rumo aos 500 mil mortos até o meio do ano, aos mais de 5 mil mortos por dia, ao colapso funerário etc.

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O contraponto na prática

Enquanto o estado de São Paulo e o Brasil batem recordes de mortos por Covid, uma cidade em especial não registrou hoje nenhuma morte hoje, pelo segundo dia seguido. Trata-se de Araraquara, governada pelo prefeito Edinho Silva, do PT. Localizada no interior de São Paulo, a cidade tem 240 mil habitantes. O número de mortos por Covid de hoje e de ontem, zero, foi alcançado justamente graças a um lockdown, de 10 dias, realizado em fevereiro.

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