PSOL conseguirá motivar a militância de outros partidos em São Paulo?

Diante da confirmação de Guilherme Boulos no segundo turno em São Paulo, a capacidade do PSOL de fazer alianças será testada

Imagem: O Partisano
por Vinicius Felix

Guilherme Boulos é o candidato “outsider” da esquerda brasileira. Embora venha construindo sua reputação desde, pelo menos, 2013, a partir da chamada “oposição pela esquerda” ao governo da petista Dilma Rousseff -portanto, no mesmo campo que o PSOL -, não pode ser tomado como um construtor histórico desse partido, com o qual veio a formar uma vinculação mais eleitoral do que orgânica.

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Se, por um lado, isso representou um salto qualitativo inegável ao PSOL, que, no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), liderado por Boulos, finalmente encontrou a possibilidade de se vincular a um “movimento social” de “base popular” como os que o PT se notabilizou por representar; por outro lado, não significa que Boulos sujeitou sua liderança sobre o MTST às lideranças do PSOL, que, pela própria estatura pequena e estrutura fragmentada, não poderia “absorver” facilmente o MTST.

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Carisma pessoal

Podemos, portanto, observar coerentemente que os principais fatores de propulsão das candidaturas de Boulos – tanto a de 2018, quanto esta, de 2020 – têm sido seu carisma e seus méritos pessoais, e apenas secundariamente, a atratividade peculiar que o PSOL exerce sobre as simpatias de determinados setores do eleitorado da esquerda. Isso, porém, não significa que sua candidatura esteja blindada de colher aquilo que a militância e os simpatizantes do PSOL venham a plantar nesta corrida.

Já no primeiro turno desta eleição, e com a confirmação da chapa Boulos/Erundina no segundo turno da disputa pela prefeitura de São Paulo, militantes do PSOL estão realizando um sonho há muito acalentado: ter a militância do PT engajada em favor de uma chapa pura do PSOL, de forma não dependente das articulações e contrapartidas formais entre os dois partidos.

Militância emprestada

Na medida em que esse desejo espelha a própria falta de musculatura da militância do PSOL, o avanço da candidatura sobre eleitorados já não ganhos dependerá, dentre outros fatores, da motivação de mobilização desses aliados pouco reconhecidos, quando não abertamente espezinhados pelos setores mais tóxicos da militância e simpatizantes do PSOL.

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Além disso, embora esse farisaísmo político no PSOL seja tipicamente voltado contra o PT – algo que se explica pela origem do PSOL como “racha” de dissidentes do PT -, se não for reconhecido e neutralizado a tempo poderá comprometer a capacidade da candidatura de Boulos dialogar e ampliar seu arco de alianças e votos em outros setores da sociedade. Não apenas os organizados em outros partidos reputados como de esquerda ou progressistas, como o PSB, de Márcio França, o PDT de Ciro Gomes, e a REDE de Marina Silva; mas também setores do “centro” e mesmo abertamente de direita insatisfeitos com a governança do PSDB na prefeitura da capital e do governo do estado de São Paulo.

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Auto-crítica

Seria, então, o caso de as bases psolistas imporem a si mesmas aquilo que mais insistentemente demandam dos petistas, ao longo dos anos: realizarem uma auto-crítica das posturas que conduziram a seus fracassos eleitorais passados, como a recente derrota de Marcelo Freixo para Marcelo Crivela, no segundo turno da disputa eleitoral pela prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016.

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