Por uma esquerda Partisan Revolucionária

A esquerda precisa mostrar autonomia diante dos trabalhadores, e não fazer acordos com a direita dentro do Congresso por causa de cargos

Imagem: André Broussard
por Vitor Ferreira

O ocorrido de ontem nos Estados Unidos é a forma mais clara possível que se pode apresentar na atualidade aos camaradas da esquerda brasileira de que o fascismo, o golpismo e o capitalismo andam de mãos dadas, que não se negocia e nem se derrota a direita no voto ou com alianças como a tal frente ampla. Nesse sentido, o resgate da história de resistência dos partisans na Itália fascista contra Mussolini é um elemento importantíssimo, assim como o papel central e crucial da União Soviética na derrota de Hitler.

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Enquanto Inglaterra, França e Estados Unidos assistiam ao crescimento do nazifascismo – elogiando a dupla Hitler e Mussolini e torcendo pelo sucesso desse movimento -, a luta organizada dos trabalhadores e trabalhadoras, a luta heroica dos partisans e comunistas, acontecia. Apenas quando os interesses particulares desses países imperialistas foram colocados em jogo é que se formou a tal aliança. Não há contradição estrutural entre as direitas, entre os liberais e os fascistas, assim como não houve contradição desses países liberais com os regimes de Franco e Salazar, fascistas que não eram uma ameaça aos interesses da tríplice imperialista e que por isso puderam exercer o poder e o terror em seus territórios.

Outro ponto que precisa ser definitivamente entendido é que na história do mundo, nenhum país mudou sua forma organizacional através do voto ou de decreto. Não se pode esperar que esses mecanismos vão concretamente derrotar expressões do realismo capitalista em crise, como é o fascismo, ou que por meio de algumas leis institucionais esse terror será combatido. É fundamental buscar elementos históricos para analisar e lidar com a situação brasileira e mundial.

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Os emocionados

As esquerdas precisam sair do lugar cômodo de somente disputa eleitoral, precisam sair do discurso esquizofrênico do “pobre de direita vota errado”, pois não existe pobre de direita! O que existe é pobre desiludido com a não mudança do real, pobre abandonado pela esquerda, pobre sem formação política, pobre que não enxerga na esquerda uma verdadeira possibilidade de alternativa sistêmica, pobre que não se identifica com o sistema porque sente que é explorado de todas as formas possíveis, só não sabe o que fazer. Agora, existe sim o emocionado de esquerda e esse emocionado resume toda a luta na correlação de forças dentro do parlamento e das instituições burguesas. O emocionado de esquerda, quando ainda é militante, é apenas uma vítima dos dirigentes oportunistas de esquerda que não compreendem a dimensão da luta de classes ou compreendem, mas já foram adestrados pelo capital.

Não se pode mais aceitar um rebaixamento total da linha política revolucionária socialista, não se pode deixar a imagem das esquerdas diante da classe trabalhadora brasileira se associar à ordem dominante em qualquer grau e sentido. O descolamento total da ordem burguesa é ponto crucial, ao contrário do esquerdismo – doença infantil do comunismo -, que trata como “decisão crucial dos rumos futuros da política” a escolha do presidente da câmara dos deputados.

Francamente, camarada! Nós tivemos uma Presidenta da República torturada psicologicamente durante o golpe, um ex-presidente preso e caçado de todas as formas ilegais possíveis e, em contrapartida, um nazifascista nos governa – de novo -, Fred Hampton já disse: “é uma luta de classes, porra!”. O Estado é burguês, foi por dentro do Estado que tudo isso se legitimou e é legitimado, o imperialismo existe e é com ele e por ele que o Estado atende aos interesses do capital nacional e internacional.

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O “mal menor”

Se rebaixar ao “mal menor” é se distanciar da transformação e da necessidade da radicalidade revolucionária, é preciso se impor! É urgente pautar o socialismo e é de suma importância que a classe trabalhadora como um todo enxergue nas esquerdas uma ruptura com toda a direita e a ordem dominante, é preciso romper com a domesticação que as organizações de esquerda sofreram nos últimos anos, uma simbiose com o Estado, que se vale de “táticas” de alianças ou acordos com golpistas. O esquerdismo  – doença infantil do comunismo – imagina que, com essa prática que causa repulsa nas massas trabalhadoras, se atingirá, no final, o objetivo “estratégico” de se voltar ao poder do Estado, por dentro do Estado e sem enfrentar o Estado.

É compreensível o medo que se tem da situação brasileira em 2022, ou mesmo antes disso, degenerar-se como aconteceu nos EUA com a invasão de supremacistas brancos no Capitólio, mas é preciso enxergar com mais clareza a situação brasileira:

1. A mesma coisa aconteceu em 2014, quando Aécio Neves proclamou inaceitável a derrota da direita e não houve resistência concreta e organizada;
2. Isso se consolidou com o golpe de 2016, que também não teve resistência concreta e organizada;
3. O golpe veio com a aberração nazifascista do Bolsonaro berrando sobre Ustra e a tortura no Congresso, e não houve resistência concreta e organizada;
4. Esse movimento colocou na presidência uma das pessoas mais corruptas do país, o golpista Michel Temer, e não houve nenhuma resistência concreta e organizada;
5. O ataque da direita enrustida com a PEC da morte e a reforma trabalhista passou e não houve resistência concreta e organizada;
6. A eleição de Bolsonaro foi uma fraude e todo o mundo já sabe. Tudo indica que esse psicopata teria esquema de corrupção e envolvimento com a milícia, dos pés à cabeça. Bolsonaro, nos dois últimos anos, cometeu um verdadeiro genocídio contra a população brasileira através da Reforma da Previdência, do sucateamento das universidades, do sucateamento da Petrobrás, da destruição da Amazônia e do desemprego histórico.

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As organizações de esquerda têm tudo para ganhar com a escolha de autonomia política, cumprindo um papel de se opor à ocupação e controle do imperialismo, com organização e formação militante aguerrida e combatente, com o levantar das bandeiras de ruptura e com o enfrentamento total da burguesia nacional. Inaugurado pela direita e hoje automatizado pela direita fascista, o “Tchau, querida” do golpe precisa ser respondido e para isso devemos responder de maneira partisan com “Bella Ciao”, daquele que não tem medo de morrer sendo resistência, como foi o italiano comunista, Antônio Gramsci:

“Instrui-vos porque teremos necessidade de toda vossa inteligência.
Agitai-vos porque teremos necessidade de todo vosso entusiasmo.
Organizai-vos porque teremos necessidade de toda vossa força.”

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