Segundo o ministro da Economia, o aumento da expectativa de vida dos brasileiros quebrou o Estado: “todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 anos”

por William Dunne
Dizem que Jair Bolsonaro profere frases estapafúrdias para desviar o foco de suas responsabilidades e fracassos, o que seria um ardiloso plano de comunicação inspirado por Steve Bannon. Há quem duvide dessa tese, mas, em qualquer caso, o que se deu hoje (terça-feira, 27) foi diferente. Paulo Guedes, ministro da Economia, não sabia que estava sendo filmado e transmitido durante a reunião do Conselho de Saúde Complementar quando reclamou que os brasileiros estão vivendo por tempo demais e que isso custa caro para os cofres públicos em investimento na Saúde.
Segundo Paulo Guedes, “todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 anos”, e, portanto, “não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar”. Dramático, o “Posto Ipiranga” sentenciou: “o Estado quebrou”. E queixou-se de que não foi a Covid que exauriu a capacidade de resposta do sistema público de saúde, mas sim o “direito à vida” e “o avanço da medicina”. É comum entre eleitores fiéis a Bolsonaro a queixa contra qualquer tipo de progresso, Paulo Guedes soma-se aos louquinhos do cercadinho com seu lamento diante do avanço da medicina.
Durante a reunião, Guedes afirmou que “não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar” o aumento da longevidade dos brasileiros e a consequente procura maior por atendimento médico. Curiosamente, no Brasil existe um governo (ou quase), e Paulo Guedes faz parte (mais ou menos) desse governo. Ao constatar o problema como se fosse um professor de economia doutrinando alunos em alguma universidade chilena, nem parece que ele poderia fazer alguma coisa diante desse problema.
Acontece que para a direita isso é a realização de seus ideais. Se o Estado quebrou, isso para a direita é um sucesso. Porque a vida não deveria ser um “direito” garantido por gastos estatais com saúde. Em 2020, a expectativa de vida dos brasileiros caiu pela primeira vez desde 1940, indo para 75,4 anos, um a menos que no ano anterior. Isso é a realização da política bolsonarista, o governo é um sucesso. Quem não estiver planejando morrer cedo, precisa considerar como ajudar para fazer esse governo cair o quanto antes. Para os que seguem apoiando a sandice no governo, “morrer pela pátria” adquiriu um novo sentido.