Grupo é frequentemente apontado como “radical islâmico” e “terrorista”, essas acusações escondem o caráter legítimo de uma luta anticolonial e da representação popular

por William Dunne
Esta semana, a OEA classificou o grupo como “terrorista”. A imprensa capitalista apresenta o Hamas sob a pecha do extremismo e do terrorismo, sempre como “grupo radical islâmico”. De um lado estaria a ocupação israelense se defendendo dos extremistas, e do outro lado estariam os terroristas islâmicos fanatizados e irracionais do Hamas. Retomando o “choque de civilizações” de Samuel Huntington, essa tese neoconservadora justifica a violência da ocupação colonial israelense e condena a resistência de um povo sob estado de sítio na maior prisão a céu aberto do mundo: a Faixa de Gaza. (Uma porção de terra que corresponde a 2% da Palestina para onde foram expulsos centenas de milhares de palestinos durante o processo de limpeza étnica que consolidou o Estado de Israel.)
No entanto, o islamismo e uma suposta irracionalidade “extremista” não têm nada a ver com o real problema colocado pelo Hamas. Israel estimulou o aparecimento do Hamas quando impulsionou, a partir do final da década de 70, a criação de escolas religiosas na região. Buscavam, naquele momento, minar o movimento secularista, que eles julgavam então ser seu maior problema. Essa política corresponde ao jogo que potências imperialistas também fizeram na região para combater secularistas e socialistas.
Porém as coisas não saíram bem como o esperado. O Hamas, com o tempo, acabou canalizando a insatisfação de seu povo com os fracassos dos políticos secularistas. Isso porque, de um lado, ofereciam assistência social e educação para a população. E, por outro lado, rejeitava a política do Fatah de buscar acordos com Israel. O Hamas jamais aceitou abrir mão do direito de os refugiados palestinos retornarem para as terras de onde foram expulsos, assim como não aceitava a solução de dois estados, que é visto por muita gente como aceitar um roubo de território da parte dos sionistas. Trata-se portanto, de um programa combativo, enquanto as hesitações e acordos do Fatah podem ser vistos como uma capitulação.
Entusiasmo
A combatividade não fica só por conta de um programa defendido em palavras. Hamas, além de ser a sigla para “movimento de resistência islâmico” também corresponde à palavra árabe para “entusiasmo”. E esse entusiasmo na luta foi demonstrado pelos membros desse grupo durante ocasiões como a Segunda Intifada. Políticos do Fatah também foram combativos, e há quadros presos até agora. Em qualquer caso, a disposição de luta do Hamas conquistou popularidade entre os palestinos, desiludidos com as tentativas de acordo com Israel, acordos sempre desrespeitados primeiro pelos próprios israelenses, que aproveitam toda oportunidade de expandir seu território dentro do que resta da Palestina.
E o problema é justamente esse: a luta. É isso que deve ser sistematicamente condenado frente ao apodrecimento do capitalismo, que o povo lute por seus direitos. Não se trata de um problema com o islamismo, que foi apoiado quando julgaram conveniente, ou com os métodos “terroristas”, em qualquer caso legítimos quando se reconhece a condição de ocupação colonial da Palestina. (Israel bombardeia civis em uma proporção muito mais terrorista do que qualquer ataque do Hamas até hoje, e continuará a fazê-lo enquanto perdurar seu projeto colonial na Palestina). O que a burguesia no mundo todo não aceita é que o povo se organize coletivamente para lutar. Daí a importâncias de se esclarecer o papel do Hamas enquanto organização política legítima e legítimo representante popular dos palestinos. A campanha mundial contra o Hamas, além da função que cumpre localmente, é um instrumento da burguesia na luta de classes. Visa, como sempre, condenar o povo que enfrenta seus algozes.