Uma breve análise do epíteto usado em diversos editoriais do Estado de S. Paulo, e estampado na capa da IstoÉ atualmente nas bancas

por William Dunne
A capa da IstoÉ atualmente nas bancas recicla o epíteto cunhado pelo Estadão e usado frequentemente nos editoriais do jornal para depreciar Lula: o “demiurgo de Garanhuns”. “Demiurgo”, esta exótica palavra grega que metade dos leitores da IstoÉ não devem saber o que significa, designava o Deus criador de tudo para os platônicos. Na origem, significava “o que trabalha para o público”. Uma venenosa ironia, feita só para os relativamente poucos leitores do Estadão, tão distantes das aspirações de seu povo, entenderem.
E aí vem a segunda parte, “de Garanhuns”. O contraste tem a intenção de fazer de Lula ridículo. De um lado, a palavra grega, erudita, com uma piscadela para a elite. De outro, o topônimo de origem indígena, de fora da herança cultural hegemônica que os ricos pretendem representar. É uma antítese: a parte grega é universal, a parte indígena da expressão é o interior do Brasil, atrasado e desprezível, como se esse atraso não fosse produto das políticas dos donos do país. Essa forma de tentar ridicularizar o ex-presidente mostra como, na verdade, a casa grande abomina tudo que venha do povo, incluindo seus eleitores e seus representante políticos.
Por isso o PIG (Partido da Imprensa Golpista), só poderia mesmo ser golpista. A democracia, se valer, dá votos e voz à gentalha. Esse perigo precisa ser contornado com uma ampla e permanente campanha para demonizar os políticos populares. E, quando isso falha, melhor implantar uma ditadura. O mais curioso de tudo isso é que essa imprensa, ao mesmo tempo, pretende-se também representante da democracia. Em nome da democracia, o “governo do povo”, atacam o povo. Haja cinismo. Querem excluir a grande maioria das pessoas da política institucional, do regime político, como se a política fosse o Bar Cabral, que Luciano Huck tinha em São Paulo nos anos 90, e sobre o qual declarou a um jornalista à época: “uma coisa eu digo, baiano aqui não entra”