Juiz coxinha quase provocou um massacre no Quilombo Campo Grande

No último momento um grupo de parlamentares do PT conseguiu um acordo com a polícia para impedir o despejo, porém a ofensiva da direita contra a população continua

Imagem: MST
por Clarice de Oliveira Rosa

No último dia 12 de agosto, o juiz bolsonarista e fã incondicional de Janaína Paschoal, Roberto Apolinário de Castro, decretou o fim da campanha “fique em casa” para 450 famílias do assentamento do MST “Quilombo Campo Grande”, no sul de Minas Gerais, por meio de uma ordem de reintegração de posse. A PM do Zema já aproveitou para destruir as casas. E também plantações e uma escola, e isolou as famílias para não receberem alimentos, cortou o abastecimento de água e colocou fogo na pastagem seca pela estiagem, gerando a tão falada “nuvem de fumaça”, versão brasileira mais barata da câmara de gás, bastante útil em certas ocasiões, conforme ensina a tradição nazista. O objetivo é matar a todos, de frio, fome, COVID, asfixiados ou na bala mesmo.

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Para cumprir o serviço, foram enviados 180 policiais – 150 “comuns” e mais 30 robocops do pelotão de choque – vinte carros de polícia, uma retroescavadeira e um helicóptero. As autoridades tranquilizam a todos afirmando que este contingente não vai ser utilizado para nenhum massacre, ora! É que houve suspeita de que os moradores poderiam colocar em risco a vida dos policiais, já que teriam sido encontrados no local dois facões e um rojão “Cortadinho 3 tiros”.

As autoridades informam também que a polícia mostrou todo o seu usual bom senso, propondo levar as famílias para a Vila Vicentina, epicentro local da pandemia, onde estão todos os casos confirmados de COVID-19 do município, embora não tenham esclarecido exatamente o que estas pessoas iriam fazer lá, além de pegarem a “gripezinha”, já que “lugar pra ficar, não tem não”.

Servicinho fascista bem feito, mas o povo resiste

“Companheirada, bom dia. Hoje é dia 13. Nós seguimos aqui, em vigília. A gente está sitiado pela polícia. Ontem a gente tinha aqui um aparato de mais de 150 policiais, chegaram mais de vinte carros policiais, reforço das polícias especiais. Nós estamos aqui, em resistência. Nós queremos denunciar a covardia do governo Zema, e nós precisamos do apoio de toda a sociedade, de Minas Gerais, do Brasil, do mundo, pra que a gente possa resistir aqui neste momento. Nós estamos firmes aqui, e daqui não vamos sair!” (Tuíra Tule, dirigente estadual do MST).

Diante de tanta boa vontade das autoridades em executar o seu trabalho fascista, a comunidade de trabalhadores construiu barricadas e manteve-se em vigília por mais de 48 horas, resistindo para salvar o que restou das casas e plantações, enquanto procurava apoio para reverter a ordem judicial. Trabalhadores Sem Terra do Vale do Rio Doce, em solidariedade às famílias do Quilombo Campo Grande, pararam a BR 116 na manhã de sexta (14); o coletivo Alvorada, de Belo Horizonte, protestou na capital contra a desordem judicial; na Internet, ativistas digitais levantaram o #ZemaCovarde, #ZemaCriminoso e #ZemaMentiu que bombaram por quase 24 horas; 64 parlamentares e os presidentes do Conselho Nacional de Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados solicitaram uma reunião com o governador laranja Zema – que não atendeu ninguém pois tinha uma urgência inadiável na hora – e também encaminharam petição ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, solicitando a “suspensão da ordem de cumprimento da liminar possessória para desocupação do imóvel”, mas pegaram os desembargadores em um dia ruim, de muito trabalho, motivo pelo qual ainda não tiveram tempo para analisar mais este caso que “abarrota nossos tribunais” cansados.

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Por trás de todo ato fascista, sempre há um burguês incompetente, falido, agarrado na teta da justiça

Apesar das certezas incontestáveis de ancaps e “liberais” do MBL, a burguesia adora o Estado. Sempre que está em dificuldades, corre para baixo das togas dos juízes, buscando abrigo nos palácios e cofres públicos. E é o que está fazendo o incompetente, falido e obstinado coroné, Sr. Jovane de Souza Moreira, que ainda se acha dono do local onde os trabalhadores despejados conviviam harmoniosamente com os pistoleiros do “homi” há mais de 20 anos. O cara não arreda pé do lugar apesar das mais de 140 ações por sonegação fiscal que a finada e falida Usina Ariadnópolis, administrada pela empresa Cápia, vai enrolando na “justiça”, com todos aqueles mandados de penhora e leilões chatos sendo muito bem geridos por advogados espertinhos e seus amigos do judiciário.

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Lá onde os trabalhadores do MST até poucos dias produziam, por ano, 15 mil sacas do café orgânico Guaií, 55 mil sacas de milho, vendendo para várias regiões de Minas Gerais, além de hortaliças e criação de galinhas, esta Usina Ariadnópolis, em 1996, fechou as portas e deixou na mão seus quase 400 empregados, sem receberem nada. Nem o FGTS e o INSS tinham sido recolhidos. Na época, para fugir da justiça, os patrões trambiqueiros tiraram todos os bens de valor da usina, transformando-a em um sucatão.

Imagem: MST

Nestas condições, o Governador Pimentel havia decretado a desapropriação da área em setembro de 2015, declarando parte dos 3,6 mil hectares como de interesse social. Entretanto, ao assumir o poder, o Zema fascistão paga pau de sonegador falido, revogou o decreto, em 19 de julho de 2019, dando origem a uma ordem de despejo que estava suspensa diante da pandemia.

Mas como bandido bom é bandido amigo de juiz, chegou a vez do Roberto Apolinário dar aquela conhecida mãozinha amiga para os seus amigos, soltando um despacho que passa por cima da suspensão do processo, da Portaria Conjunta 1025 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e também da decisão do STF no Recurso Extraordinário 1017365, três decisões diferentes suspendendo qualquer tipo de despejo nesta época de pandemia, todas em nome da “dignidade da pessoa humana”, que ainda está escrita na combalida e golpeada Constituição Federal. Ah! Bom lembrar que o candidato a Mussolini de Campo Grande, o juizeco da 1ª instância mineira, deu o despacho e saiu correndo, deixando a comarca logo em seguida, disfarçado de ser humano de bem.

Iminência de um massacre, na bala ou na COVID

“As famílias estão há mais de 48 horas em resistência, sem dormir ou se alimentar direito. E não há como evitar aglomeração. Policiais também podem estar se contaminando. Há grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco, completamente expostas ao vírus e à iminência de uma violência policial. O MST já desocupou a área referente à sede da usina e luta para que casas e lavouras não sejam destruídas.” (Relato de Geanini Hackbardt, da direção estadual do MST).

Com a plantação perdida, sitiados pela polícia, que não deixaram passar nem água e comida por dois dias, as famílias resistiram a tudo sem dormir, com fome e frio, espírito de luta, crianças assustadas e idosos apreensivos. O problema é que sem uma solução efetiva à vista, tudo parecia indicar que as hashtags do Twitter, os vídeos de apoio, os dois facões e o rojão “Cortadinho 3 tiros”, ou mesmo “o apoio de toda a sociedade, de Minas Gerais, do Brasil, do mundo” não vão seriam capazes de impedir que mais um massacre ocorresse, bem debaixo dos nossos narizes, bem na frente de nossos olhos cada vez mais acostumados com o fascismo e suas milhares de mortes cotidianas, inevitáveis.

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Parlamentares conseguem acordo para frear avanço da polícia sobre o Quilombo Campo Grande

No fim da noite de sexta-feira (14), os deputados federais Odair Cunha e Rogério Correia, e os deputados estaduais de Minas Gerais Beatriz Cerqueira, Ulysses Gomes e André Quintão, todos eles do Partido dos Trabalhadores (PT), conseguiram um acordo com a polícia para que a ação não avançasse sobre outras áreas do Quilombo. Seis famílias acabaram sendo desalojadas até que o acordo fosse alcançado, mas a solidariedade característica do MST deverá ampará-las. Dessa vez, o grupo de parlamentares conseguiu impedir um desfecho pior para esse ataque da direita golpista aos trabalhadores do campo organizados. No entanto, a ofensiva da direita contra a população continua, como fruto do golpe de 2016 e uma sucessão de acontecimentos que visavam enfraquecer as organizações populares e os partidos de esquerda.

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