Lula acaba de conceder uma coletiva histórica em São Bernardo do Campo. O ex-presidente começou a entrevista fazendo um apelo para que todos estivessem de máscara e, em seguida, lembrou da última vez que esteve ali: “faz quase três anos que saí da sede desse sindicato para me entregar à Polícia Federal”. Lula defendeu o ato de se entregar naquela ocasião para não “aparecer como um fugitivo”. “Tomei a decisão de provar minha inocência dentro da sede da Polícia Federal, perto do juiz Moro”. O ex-presidente afirmou que tinha certeza de que chegaria o dia em que a verdade venceria, e “esse dia chegou”.
Lula relembrou sua carreira como operário no ABC, recordando as primeiras greves realizadas em 1978, com a criação do PT para disputar o poder para além das lutas sindicais. “Vi que era necessário entrar na política e construir uma consciência política no país”. E disse: “Eu sou o resultado da consciência política da classe trabalhadora brasileira. Na hora que ela evoluiu, eu evoluí”. E disse que a vigília de Curitiba “foi a coisa mais extraordinária que já aconteceu na minha vida”.
“Eu sou o resultado da consciência política da classe trabalhadora brasileira. Na hora que ela evoluiu, eu evoluí”
Lula discursando durante greve em dos metalúrgicos São Bernardo do Campo, em 1979. Foto: Folhapress
Tom
Lula comentou a expectativa por qual seria seu tom na entrevista de hoje. Disse que teria razão para estar magoado, mas que não estava:
“Eu sei que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Eu sei que minha mulher, a Marisa, morreu por conta da pressão, e o AVC se apressou. Eu fui proibido até de visitar meu irmão dentro de um caixão.” E completou: “Se tem um brasileiro que tem direito de ter muita mágoa, sou eu”.
Lula ponderou, porém, que sua dor não era nada perto da dor que o povo brasileiro está sentindo hoje: “Não tem dor maior para um ser humano do que não ter um prato de feijão com farinha para dar para o seu filho”. E lembrou também a dor das famílias de mais de 260 mil vítimas da Covid-19. “Quero prestar minha solidariedade nesta entrevista, às vítimas do coronavírus. Aos familiares das vítimas. Aos profissionais da Saúde, especialmente aos trabalhadores do SUS”. E destacou que o governo “tem sido um desgoverno no trato da saúde”. Apontou, também, que a questão da vacina não é uma questão de dinheiro, mas de salvar vidas e se opôs à liberação das armas: “Quem precisa de armas são nossas Forças Armadas e a polícia” e “não os fazendeiros para montarem milícias”.
Apoio internacional
Lula agradeceu o apoio do presidente da Argentina, Alberto Fernadez, que foi visitá-lo no cárcere quando era candidato à presidente. “Foi a primeira pessoa a me ligar depois da decisão do Fachin. Ao presidente Alberto Fernandez e ao povo da Argentina, solidário, meus agradecimentos”. O ex-presidente também agradeceu ao Papa Francisco, que mandou um representante para tentar visitá-lo na Polícia Federal, junto com uma carta para Lula.
Lula agradeceu também ao Foro de São Paulo e diversos líderes políticos:
“Quero agradecer ao Pepe Mujica. Não poderia deixar de agradecer a solidariedade do senador Bernie Sanders. Quero reconhecer com muito carinho o comportamento da prefeita Anne Hidalgo, prefeita de Paris. Quero agradecer ao companheiro Zapatero, ao companheiro Evo Morales, o nosso querido Chico Buarque, o nosso querido Noam Chomsky, o nosso querido amigo, velhinho, que passou quatro anos tentando doar uma fazenda para a USP, Raduan Nassar. Quero agradecer meu biógrafo, que nunca termina meu livro, companheiro Fernando Moraes. Quero agradecer o Martin Schulz, da Social-Democracia (alemã). Quero agradecer, de coração, o pessoal da vigília. Tem gente aqui que ficou muito tempo na vigília.”
Alberto Fernandez para visitar Lula em Curitiba. Imagem: reprodução
“Durante cinco anos, amplos setores da imprensa não exigiram nenhuma veracidade do Moro, nenhuma veracidade dos procuradores, nenhuma veracidade da Polícia Federal”. E denunciou, que agora, “mesmo o perito avalizando” as mensagens da operação Spoofing, a imprensa está ignorando a divulgação das conversas da Lava Jato. Lula contrastou essa atitude da imprensa hoje com os vazamentos seletivos coordenados entre a Lava Jato e a imprensa urdidos contra ele. “Colocavam um gasoduto saindo dinheiro para ficar 20 ou 30 minutos falando contra o Lula”.
Quadrilha da Lava Jato
O presidente denunciou que isso é uma política contra a inclusão social que ele representa, “afinal, o papel do trabalhador é trabalhar”, e não ter direito ao lazer. “Eu sou agradecido ao ministro Fachin, porque ele tomou uma decisão que a gente reivindicou desde 2016.” E denunciou que a “quadrilha de procuradores da Lava Jato entendiam que a única forma de me pegar era me levar para a Lava Jato. Eles tinham obsessão de me criminalizar”, porque queriam “fundar um partido político”. “Ontem a gente teve um Jornal Nacional épico. Quem estava vendo televisão não estava acreditando. Pela primeira vez, a verdade apareceu.” E concluiu, “eu, como acho que tenho um pouco de experiência, fiquei feliz com a verdade, porque é pra isso que servem os meios de comunicação”. E disse esperar que esse seja o novo padrão da Globo.
O ex-presidente defendeu a “liberdade de imprensa”, em nome da democracia e agradeceu aos seus advogados. “É uma coisa engraçada. Os meus advogados não eram criminalistas, e por isso eu fui muitas vezes provocado para contratar alguém famoso. E eu dizia, ‘para defender a verdade eu não preciso disso’. Uma vez pediram para eu conversar com uma pessoa, e essa pessoa disse pra mim, ‘eu posso até participar, mas eu preciso de 3 milhões de reais’. E eu fiquei pensando, ‘se eu pago, tá confirmado que eu sou ladrão'”.
“Vocês estão lembrados que eu disse que não trocava minha liberdade pela minha dignidade. Muita gente achava que eu estava radicalizando. E eu estava apenas dizendo o que eu sentia. Eu tinha certeza que esse dia chegaria, e ele chegou”.
E recordou: “Eu já fui absolvido em todos os processos fora de Curitiba, mas eu vou continuar brigando para o Sergio Moro ser considerado suspeito”. E disse ter certeza que moro e Deltan Dallagnol devem estar sofrendo hoje. Lula lembrou de uma conversa que teve com um amigo criminalista, que disse que a denúncia do triplex “não tinha como prosperar”. Mas aí, “inventaram uma offshore no Panamá”.
Para Lula, o cenário atual assusta: “eu fiquei pensando no que eu falaria para vocês aqui. E cheguei à conclusão de que eu precisava falar com vocês sobre a situação desse país. O Brasil não merecia passar o que está passando”. Lula destacou que, com 75 anos de idade, vai se vacinar, seja de que país for a vacina. E fez um apelo: “não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República. Tome vacina, porque a vacina é uma das coisas que podem livrar você da Covid. Mas depois da vacina, você precisa continuar fazendo o isolamento, usando máscara e usando álcool gel”. E destacou a dimensão da tragédia: “ontem morreram quase 2 mil pessoas. Eram mortes que muitas delas poderiam ter sido evitadas se o nosso governo tivesse feito o elementar”. E completou: “A primeira coisa que o governo deveria ter feito, em março do ano passado, é criar um comitê de crise. E toda semana orientar a sociedade brasileira. E comprar a vacina de qualquer lugar.”
“Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República. Tome vacina, porque a vacina é uma das coisas que podem livrar você da Covid.”
Sobre Jair Bolsonaro, Lula destacou: “Ele não sabe o que é ser presidente da República, ele a vida inteira não foi nada. Depois que ele se aposentou ele foi vereador e deputado durante mais de 30 anos”. E refletiu sobre o poder das “fake news”, que elegeu Trump e Bolsonaro: “A mentira tem mais força porque é mais fácil acreditar. A verdade você tem que explicar.” Lula apelou às igrejas para ajudarem no combate à Covid, e não “vender grão de feijão” ou fazer culto “aglomerando e dizendo que tem o remédio”.
“A mentira tem mais força porque é mais fácil acreditar. A verdade você tem que explicar.”
Imagem: Ricardo Stuckert
Prejuízo da Lava Jato
O ex-presidente mencionou um estudo do Dieese que demonstra que a Lava Jato provocou um prejuízo de “172 bilhões de reais” para a economia do Brasil, em investimentos que deixaram de ser feitos. E lembrou que mais de 4 milhões de empregos diretos foram perdidos por causa da operação.
Lula lembrou que o Brasil chegou a ser a sexta economia do mundo, que era o país mais admirado no mundo e feliz. “O Brasil tinha um projeto de nação. O que esse país tem hoje?” E censurou a política de privatizações da direita: “Nós não construímos a Petrobrás para exportar petróleo cru. Nós construímos para exportar derivados e fazer o Brasil uma potência química”. E lamentou, “tudo isso está sendo destruído”. E apontou, “você já ouviu o Guedes falar em crescimento econômico? Não! É vender!”
E se opôs a essa política, “o que vai fazer crescer, é o investimento público”. Porque “se o Estado não investe, porque o empresário vai investir?” Lula lembrou que a indústria automobilística vendia 4 milhões de carros em 2008, e hoje vende 2 milhões. “É preciso ter renda para ter emprego. Por que você acha que o PT está lutando por um salário emergencial? Enquanto o governo não cuida de emprego, salário e renda, o governo precisa dar um salário emergencial para o povo não morrer de fome.”
Imagem: reprodução
Lula censurou a falta de diálogo do governo Bolsonaro: “Para governar um país, um presidente da República precisa conversar com os sindicalistas, precisa conversar com a força de trabalho. Precisa conversar com os empresários.” Porque é preciso “conversar com a sociedade”. “Esse povo não precisa de arma, precisa de educação. O Estado precisa estar presente nas periferias desse país. Precisa levar cultura, educação. Esse é o papel de um presidente da República. O Brasil não é dele e dos milicianos, o Brasil é de 200 milhões de pessoas”.
Preço da gasolina e vacinação
Lula destacou que a Petrobrás não pode ter um preço em dólar se o Brasil não precisa importar petróleo e pode produzir tudo aqui mesmo. “Como é que pode o preço da gasolina?” E lembrou que a Petrobrás conseguiu melhorar a qualidade do combustível, com padrão europeu de poluição, “e agora a gente tá importando gasolina! Isso não tem lógica!” E fez uma consideração histórica, “nós estamos de volta a 1953”, lamentando que o Brasil esteja se desfazendo do controle que tinha sobre o petróleo para se sacrificar ao Deus Mercado.
Sobre a vacinação, Lula recordou que em seu governo, durante a epidemia de H1N1, foram vacinadas 80 milhões de pessoas em três meses. “Eu queria que vocês meditassem. Esse país não tem governo. Não tem ministro da Saúde, não tem ministro da Economia. Esse país tem um fanfarrão. Enquanto isso, vocês sabem que o país está empobrecido. O PIB caiu, a massa salarial caiu, a produção de comida para a população está ficando insustentável”.
Lula terminou dizendo que está “de bem com a vida. A Lava Jato desapareceu da minha vida. Eu não espero que as pessoas que me acusam parem de me acusar. Eu tô satisfeito que tenha sido reconhecido o que meus advogados vêm dizendo há muito tempo. ‘O presidente é inocente, o presidente não é dono de apartamento’. A gente teve total êxito na decisão do Fachin. Eu sei que é difícil para quem me acusava parar de me acusar, porque quando você envereda pelo caminho da mentira, é difícil parar. Eu estou muito mais sereno do que o William Bonner ontem ao dar a notícia. Olha como estou tranquilo, porque a verdade venceu”.
“Eu quero voltar a andar por esse país para conversar com esse povo. O povo não tem direito de permitir que o Bolsonaro continue governando o país. A gente precisa tomar alguma atitude para que esse país volte a crescer, para que o povo volte a sonhar.” E contrastou o desastre atual com sua época: “A gente criou os BRICS. Quando a gente vai ter soberania? Quando eu vou saber que meu povo está comendo? Que as crianças estão indo para a escola? Isso é possível, nós provamos isso. Então, companheiros, é pela construção desse sonho, e para torná-lo realidade, que eu me sinto muito jovem. Desistir jamais, a palavra ‘desistir’ não existe no meu dicionário”.
E deixou um recado: “Às pessoas que me detrataram todos esses anos, eu quero dizer a vocês, eu quero voltar a conversar com a classe política. A gente tem que conversar com que tá lá pra gente mudar esse país. Eu quero conversar com os empresários. Eles precisam entender, se querem ver o brasil crescer, é preciso que o povo brasileiro tenha renda. Será que é tão difícil? A gente viu os bancos quebrando em 2008, e quando eles quebram, quem coloca dinheiro é o Estado. O sistema americano, quando quebrou, eles colocaram dinheiro pra salvar primeiro os bancos, só depois eles foram ajudar os coitados que perderam as casas”.
Futuro
Lula defendeu também o combate aos preconceitos, com racismo e homofobia, “esse mundo é possível”. E concluiu dizendo que “a gente tem que obrigar o governo a dar vacina, a dar salário emergencial”, e defendeu uma ajuda para os pequenos negócios que estão quebrando, “para que existe o governo? É pra ajudar essa gente!”
Lula se desculpou por falar muito, “como o Gilmar Mendes ontem”, e justificou-se relembrando que é a primeira vez que fala com a imprensa em cinco anos. Depois iniciou-se a parte das perguntas.
Candidato em 2022?
“Ainda não falamos em candidatura em 2022. Quando chegar 2022 nós vamos discutir se vamos ter um candidato da Frente Ampla, ou se vamos ter um candidato do PT”.
Ampliar as alianças?
Perguntaram se Lula pretende ampliar as alianças para a candidatura em 2022 como fez em 2002, com um vice empresário (José Alencar). Novamente, Lula disse que é preciso esperar o momento certo, “tem momento pra tudo”. E que agora, “precisamos colocar nossa gente pra andar, pra conversar com o povo. É isso que nós temos que fazer. E depois a gente discute o resultado daquilo que a gente conseguiu fazer. Se não a gente não constrói a possibilidade de uma aliança política”.
Polarização
A Revista Fórum perguntou a Lula sobre a tese que sua presença na política aumentaria a polarização, fortalecendo Bolsonaro com isso. Lula respondeu que “muitas vezes o analfabetismo político existe mesmo em gente que tem muitos anos de escolaridade”. E esclareceu: “O PT polariza desde 1989. Veja a quantidade de gente que tinha na eleição de 1989, eu era magrinho. Eu falava ‘menas laranja’. Muita gente criticava mas o povo me entendia. E a gente foi para o segundo turno polarizando com o Collor. Depois fomos ao segundo turno polarizando com o Fernando Henrique. Depois eu fui eleito polarizando com o PSDB. A Dilma foi eleita polarizando com o PSDB. Significa que o PT é muito grande. Então o PT não tem medo de polarizar.”
E ponderou: “Você sabe que a polarização é importante. O que não pode é cometer o erro do PSDB em 2014. Eles radicalizaram não aceitando o resultado. Deu no que deu, deu em Bolsonaro. Então, eu acho que o PT sempre vai disputar a eleição para polarizar. Contra qualquer adversário.” E afirmou: “Duro é quando a polarização era entre dois partidos de direita”.
Eu falava ‘menas laranja’. Muita gente criticava mas o povo me entendia. E a gente foi para o segundo turno polarizando com o Collor. Depois fomos ao segundo turno polarizando com o Fernando Henrique. Depois eu fui eleito polarizando com o PSDB.
Imagem: reprodução
Por que agora?
Um jornalista da Al Jazira ficou intrigado com o tempo em que a decisão foi tomada. E perguntou para Lula, “por que essa decisão foi tomada agora?” Lula comentou a “morosidade do Poder Judiciário”. E continuou: “não sei se isso merece um pedido de indenização. Porque o povo brasileiro está sofrendo muito mais.” E ponderou, “eu não saberia te responder porque demoraram tanto? Por que demoraram tanto se o Lula tinha tanta pressa?”
Quando você vai percorrer o Brasil?
“Percorrer o Brasil é algo que faz parte de mim desde 1979”
Ciro Gomes
A CNN Brasil perguntou ao presidente Lula sobre a possibilidade uma aliança com Ciro Gomes depois de ele ter declarado que Lula “não é honesto”. Lula disse que Ciro “tem que aprender a respeitar as pessoas”. “Ele acha que é o quê? Se ele continuar com essas grosserias todas, ele não vai ter apoio da esquerda, não ter confiança da direita, e não vai ter os votos que ele teve em 2018. É preciso tratar as pessoas com um mínimo de carinho. Ele precisa aprender a tratar com o respeito que ele gostaria de ter”. Lula não esclareceu se haveria possibilidade de uma Frente com Ciro.
A Bandeirantes perguntou a Lula sobre um novo processo em Brasília. “Eu não sei quando vai parar o processo. Eu queria que quem fosse me processar mostrasse alguma prova.” E disse que esperava que, ao ter os processos da Lava Jato anulados, esperava que Dallagnol e Moro tivessem que pagar seus prejuízos. Mas disse estar aliviado porque está acabando o tempo do “denuncismo”. E acusou a Lava Jato: “Quem estava roubando a Petrobrás, eram eles. Isso não é o PT que fala, eram eles que falavam”. E disse saber que as acusações não vão parar, mas que está tranquilo.
PT no segundo turno leva à vitória de Bolsonaro?
A Folha de S. Paulo perguntou a Lula se a repetição do segundo turno de 2018 não levaria o mesmo resultado. E perguntou sobre a possibilidade de uma Frente de Esquerda para contornar esse problema. Lula defendeu a possibilidade de uma Frente Ampla, “com capacidade de conversar com outras forças políticas que não estão no espectro de esquerda”. E disse, “eu agora tenho que construir uma frente para resolver o problema da vacina, do auxílio emergencial, esse é o problema nosso. Quando chegar a eleição, as coisas vão acontecer, eu não estou preocupado com isso”. E respondeu a Luciano Huck dizendo que “uma figurinha carimbada vale mais que o álbum inteiro”.
Ameaça militar
O Brasil 247 perguntou se é possível dialogar com os militares, diante de manifestações contra decisões que beneficiaram ou poderiam ter beneficiado Lula. “Eu não posso levar a sério uma carta do clube Militar. Eu fiquei preocupado com a carta do Villas-Bôas. E não é correto um militar fez o que ele fez. Se eu fosse presidente ele teria sido exonerado na hora. Ele não está para decidir quem vai ser presidente ou não. Quem tem que decidir é a sociedade civil, por meio do voto. Eu acho engraçado, porque em oito anos eu nunca tive problema com os militares.” E lembrou: “Eu comprei avião para a aeronáutica como ninguém jamais comprou”. Porque as Forças Armadas precisam “defender a soberania do país”. “Eu tenho profundo respeito pela instituição. E acho que é plenamente possível a gente estabelecer uma relação democrática. Por isso a gente não deve ficar preocupado com discursinho de pessoas que já estão aposentadas”.
Rodrigo Maia e investidores
O Valor Econômico perguntou sobre um aceno de Rodrigo Maia, que publicou que “você não precisa gostar do Lula para entender a diferença entre ele e Bolsonaro”. E sobre a reação do mercado, e a possibilidade de fazer uma frente com outros setores. E Lula respondeu, ” do que o mercado tem medo? Qual é a lógica do mercado ter medo? Ele tem que ter medo do seguinte, eu sou contra a autonomia do Banco Central. É melhor o Banco Central estar na mão do governo, e não do mercado. O que o mercado quer? O mercado quer ganhar dinheiro investindo em coisas produtivas? Então tem que gostar de mim. Quer ganhar dinheiro vendo o povo virar consumidor nesse país? Tem que votar em mim. Agora, se o mercado quer a entrega da soberania nacional vendendo o patrimônio nacional, aí tem que ter medo de mim mesmo. E quem está comprando coisa da Petrobrás, está correndo risco, que a gente vai mudar muita coisa.” E denunciou que o dólar não sobe por causa das notícias sobre ele, mas porque “tem muita gente mentindo pra ganhar dinheiro com especulação”.
E continuou, “nós vamos levar muito a sério o investimento produtivo, a geração de empregos”. “Eu espero que o mercado seja sempre contra mim, e que o povo seja a favor”. E perguntou se o mercado está com medo “da geração de 20 milhões de empregos com carteira assinada?” E fez um apelo para que a Febraban e a Fiesp o chamem para debater, “qual é o medo deles?” E defendeu que comparem os dados econômicos de seu governo com os outros governos. “Pede para eles fazerem uma relação, de qual é a divergência que eles têm comigo. Só tem uma coisa, eu não abro mão de defender o interesse do trabalhador brasileiro. Eu vou recuperar o papel dos sindicatos nesse país. Porque um país tem que ter sindicato forte”.
“Se for necessário conversar com Rodrigo Maia, eu vou conversar com o Rodrigo Maia. Eu sou uma pessoa que conversa com todo o mundo. Eu não tenho preconceito com ninguém. Se ele quiser construir uma nova relação política, eu estou aberto a qualquer um que quiser conversar sobre democracia, vacina, auxílio emergencial e emprego nesse país. E se quiser dar um passo a mais e conversar sobre como tirar o Bolsonaro, estou mais aberto ainda”.