Um panorama do que foi o primeiro ano de Partisano, com votos para que muitos anos mais venham pela frente

por William Dunne
Que audácia deste portal! Completamos um ano em plena epidemia de Bolsonaro no Brasil. Quando começamos, a Covid já estava aí, mas a proporção que a catástrofe tomaria não passava de uma previsão do Átila Iamarino no cenário mais pessimista. Hoje, a projeção mais sombria já é nossa realidade, reafirmando a importância da intervenção política. Ao completarmos um mês, a gente se perguntava até quando O Partisano continuaria. Naquele momento, o número de vítimas da doença acabava de passar de 40 mil. Hoje os mortos são mais de 400 mil, e cabe aos que ficaram vivos tentarem extrair algum sentido dos acontecimentos.
Gostaríamos de um editorial mais alegre para marcarmos esta data. Porém o tema mórbido da pandemia se impõe. Com menos de um mês de existência, assinalamos a responsabilidade de Bolsonaro pelo curso que a pandemia vinha tomando. Conforme os meses passaram, as evidências dessa responsabilidade se avolumaram. Hoje esse aspecto da epidemia no Brasil é tema de uma CPI no Senado. Porém, uma fatia significativa da sociedade brasileira não se convence disso, e segue Jair Bolsonaro da mesma forma cega que membros de seitas destrutivas seguem seus questionáveis líderes.
Em parte, o apoio que Bolsonaro tem até agora se explica pelo volume da comunicação da extrema direita, com iniciativas como a Brasil Paralelo, o canal de Olavo de Carvalho, a programação da Rádio Jovem Pan. A esquerda precisa se contrapor a isso. É nesse terreno da batalha comunicacional, que hoje tem uma importância decisiva, que O Partisano busca deixar sua marca enquanto busca se consolidar. A propaganda da direita precisa ser combatida e suas mentiras devem ser denunciadas. Isso tem motivado, há um ano, a continuidade deste portal.
Nessa cruzada antifascista nas redes, mobilizamos as armas do humor, da arte e da política, com uma cobertura característica dos acontecimentos. Apontamos que a morte de um parasita monárquico deu esperanças à humanidade e ficamos atônitos com o fantástico mundo delirante de Sara Winter. Em reportagem exclusiva, destrinchamos a história do amor zoófilo de Bolsonaro. Denunciamos a perseguição à pesquisadora e professora da USP Larissa Bombardi em primeira mão, assim como os sombrios sinais de fumaça em uma funerária de Porto Alegre. Desmascaramos a mentira contra a China no caso da “jornalista cidadã” presa supostamente em uma medida de censura. Denunciamos a perseguição política contra Rodrigo Pilha, Thiago Ávila e o rapper catalão Pablo Hasél. Entrevistamos DJ Kowalsky, Vanessa Martina Silva, Breno Altman, Jones Manoel e José de Abreu.
Falamos de história, relembrando a ocasião em que Stálin recusou-se a deixar Moscou, em um momento decisivo da Segunda Guerra Mundial, e recordando, em quadrinhos, como o isolamento social foi decisivo durante a gripe espanhola. Publicamos matérias sobre comportamento, cidade e moradia. Testemunhamos a queda de Trump e seus lances mais constrangedores.
E, como nem só de pão viverá o homem, aqui também abordamos samba, punk e música erudita. Cinema e literatura. Sem esquecer do futebol e do copo americano — que na verdade é brasileiro e talvez tenha uma influência soviética. Publicamos poesia, dia sim, dia não, com sete poetas diferentes mantendo regularmente uma coluna quinzenal em nossa seção de poesia, Flauta Vertebrada.
E para finalizar esse panorama de nosso primeiro ano, desembocamos em nossas análises de conjuntura (felizmente nem sempre consensuais na redação, aberta ao contraditório), examinando problemas como o apartheid da vacina e a atual dilema da esquerda sobre ir ou não às ruas, em uma apreciação do problema que converge com essas palavras do nosso manifesto de lançamento: “Talvez seja necessário preparar barricadas com papel higiênico, álcool em gel, e ir à luta. De máscara.” E assim superamos as dificuldades de nosso primeiro ano, graças ao apoio de nossos leitores e a uma repercussão que superou nossas expectativas. Que venham muitos anos mais adiante, combatendo a direita em diversos aspectos, inclusive no aspecto estético, porque a crise é, também, estética.