As carreatas da virada pelo Fora Bolsonaro

Sem Bolsonaro, a direita não tem candidato viável para 2022, porque é extremamente difícil, senão impossível, convencer o povo a votar em massa em playboys como Doria e/ou Luciano Huck.

Imagem: O Partisano
por Alexandre Flach

As carreatas Fora Bolsonaro deste sábado (23) foram tudo o que devem ser: gigantes, vermelhas e espalhadas pelo Brasil inteiro. A própria burguesia sentiu e já deu a dica do que podem vir a ser seus próximos movimentos. E nem tão voluntários assim, diga-se de passagem.

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O jornal O Estado de S. Paulo finalmente parece ter descoberto que o Bolsonaro “é um parasita das iniciativas alheias”. A Folha de S. Paulo passou a determinar a pauta do Congresso mandando “que próximo presidente da Câmara paute pedidos de impeachment”. Já a Globo, na voz vendida da Miriam Leitão, exigiu com tanta veemência o impeachment de Bolsonaro, que chegou a cometer um “sincericídio”, como bem observou a Presidenta Dilma, confessando dois dos reais motivos do golpe de 2016: situação econômica (provocada pela burguesia) e popularidade em pesquisas de opinião (manipuladas pela burguesia).

Bem, se para a Globo são essas as novas bases constitucionais do impeachment, com um crescimento medíocre em 2019 (1,1%) e uma queda vertiginosa em 2020 (-4,5% — para se ter uma ideia, na crise de 2009, o PIB brasileiro havia recuado 0,1%), dá para entender porque os jornalões estão cada vez mais demonstrando que podemos contar com o “andar de cima” para desocupar o lugar que o Bolsonaro tomou na mão grande do PT. Tudo com a ajudinha do Moro, que, inclusive, continua a prestar seus bons serviços a corruptos pelo mundo afora.

Mas e quanto à “popularidade”? Bem, veja por si mesmo.

Imagens que falam mais do que mil pesquisas

O Brasil inteiro saiu às ruas para mostrar que se isso aqui fosse mesmo uma democracia, Bolsonaro teria que usar todo o seu histórico de atleta para fugir:

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Ficou claro, neste sábado, que a pandemia segurou muito as lutas populares que já vinham crescendo em 2019, e que poderiam tomar ainda mais força com Lula nas ruas. Será que a extrema-direita consegue se segurar na cadeira até 2022? O PT jogou toda a sua força no Fora Bolsonaro. Mas não foi só: Psol, PCdoB, MST, Povo Sem Medo, torcidas organizadas, coletivos populares, CUT e outras centrais sindicais. É a esquerda unida na luta.

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E tem “Fora Bolsonaro” no Sul do país? Claro que tem! Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre não deixaram dúvidas de que não tem essa de “reduto bolsonarista” e que a bandeira vermelha do impeachment também está firme e forte nos três estados. Mas não foram só as capitais que saíram às ruas neste sábado, afinal o genocídio fascista do Bolsonaro mata em todos os lugares do país. Não é à toa que o Fora Bolsonaro está se capilarizando rapidamente nos sertões e rincões do Brasil. Fora algum pastor muito fanático pela extrema-direita, ninguém mais nem quer ver a cara desse capeta que pensa ainda ser presidente.

Perspectivas

A luta pelo Fora Bolsonaro é fundamental para o presente e para o futuro. Quanto mais tempo o fascista estiver ocupando o Planalto, mais gente morre, mais o país será destruído e mais perto poderemos estar de um golpe dentro do golpe.

A burguesia que apostou nessa extrema-direita maluca, agora está recuando. Tanto aqui como nos Estados Unidos e outros países. Talvez tenham se convencido de que a decadência moral, cultural e econômica do capitalismo não permite mais a formação de hitleres, mussolinis ou francos. Agora, no máximo sai um Trump ou um Bolsonaro dessa velha cadela fascista.

Talvez estejam percebendo que a tomada econômica da China planificada pelo seu Partido Comunista já é absolutamente irreversível e qualquer propaganda abertamente “anticomunista” começa a doer no bolso. É provável que estejam percebendo também que já não têm condições sequer logísticas para administrar um regime fechado em tempos de milhões de celulares, mesmo que certamente estejam tentando, a todo custo, “domesticar” a sempre presente anarquia da internet usando suas armas de sempre: as grandes corporações.

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Mas o que importa para o povo é que a direita está dividida. Portanto, para nós é hora de alimentar o que mostramos na rua sábado: que se eles estão cada vez mais divididos, nós estamos unidos na luta, e temos força e condições de explorar ao máximo qualquer contradição da burguesia.

E a desarticulação da direita se revela por um fato concreto da maior importância: sem Bolsonaro, a direita não tem candidato viável para 2022, porque é extremamente difícil, senão impossível, convencer o povão de qualquer lugar fora da zona sul do Rio ou do centro expandido de São Paulo a votar em massa nos branquinhos playboys Doria e/ou Luciano Huck.

O partido dos militares, ao qual o Bolsonaro é filiado, e que hoje mama nas tetas de centenas de cargos distribuídos do primeiro ao décimo-sétimo escalão do governo fascista, não tem ninguém com popularidade para segurar a onda em 2022, se o Bolsonaro tomar um impeachment agora.

Não tem dúvida de que a burguesia já está fazendo as cabeças verde-oliva para um acordão do estilo “a gente tira o bosta do poder mas vamos manter vocês sugando as contas públicas em 2022”.

O probleminha é que ninguém sabe se existe força política realmente com poder suficiente para manter a múmia no Planalto até 2022 e assim seguir em frente com o plano de jogar o povo no falso dilema entre um assassino limpinho da direita-nutella e o fascistão ousado da direita-raiz.

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E tem outra: nós temos candidato. É sempre bom lembrar que por mais que a luta de classes possa ser um imperativo, contingências existem, e está nas mãos de muito poucas pessoas (um punhado de ministros do STF) a decisão de reconhecer a obviedade da corrupta parcialidade lesa-pátria de Moro, e a consequente anulação dos processos que hoje são a diferença entre Lula Solto e Lula Livre.

E se dá uma doida nos ministros e o Lula Livre vira realidade? Será que a burguesia está disposta a jogar todas as suas fichas em uma situação tão potencialmente instável como cabeça de juiz?

A direita sabe que não teria ninguém para bater Lula em 2022 — mesmo com o nosso camisa dez já com “mais idade”, por assim dizer — a não ser Bolsonaro. Imagina então se vier uma candidatura Lula/Boulos!

Por tudo isso, tirar Bolsonaro em um impeachment, não significa entregar o poder a Mourão, como alguns companheiros se preocupam em alertar. Significa tirar o único candidato de 2022 com alguma chance sobre Lula.

Certo, os milicos gostaram de ganhar uma graninha fácil no poder. Eles não vão querer deixar a esquerda se reaproximar do poder, mas será que eles têm o poder de impedir?

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O fato é que está na hora de bater na mesa e gritar: truco! Ok

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