100 bombas atômicas para impedir a revolução

Documento secreto dos EUA tornado público em 1977 revelou as atrocidades que os norte-americanos estavam dispostos a cometer contra a URSS em nome da “liberdade”

Imagem: vchal
por Alexandre Flach

Se você ainda não acredita que a burguesia dos Estados Unidos estão entre os maiores fascistas do planeta, leia até o final esta matéria e veja do que eles seriam — e são — capazes para destruir qualquer possibilidade de uma revolução popular mundial.

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A vitória soviética sobre Hitler trouxe para os países imperialistas um medo muito maior do que o fascismo: a revolução mundial do povo. Hitler é ruim, mas ainda é burguês. Revolução socialista não, é coisa do povo para derrubar burguês. E a simples existência da União Soviética já era suficiente para levar esperanças a todos os lugares do planeta de que é possível nos livrarmos dessa classe de parasitas.

E não tenha dúvidas: se é para impedir uma revolução contra a burguesia, as burguesias de todos os países se unem. Tornam-se imediatamente internacionalistas e agem como uma só classe mundial: uma única mão para estrangular o pescoço do povo que tentar se libertar. 

Contra a União Soviética o plano era simples: riscar do mapa, para sempre, o país dos sovietes. Seja pela economia, pela corrupção, pela ação psicológica ou através de um inferno nuclear, pouco importa o meio, para os EUA e sua turma de fascistas, a URSS tinha que sumir, a qualquer custo. Os planos imperialistas eram terríveis, um genocídio nunca visto em toda a história humana, que por muito pouco não foi colocado em prática. 

A pressão da guerra “fria” era infinitamente maior do que a dos nazistas e explica muito da dureza do assim chamado “stalinismo”, principalmente no pós-guerra. Para a inteligência dos países imperialistas era certo que a União Soviética agia para levar o comunismo para o mundo todo, seja pela revolução política, seja pela força militar, ou mesmo pela combinação de ambos.

Por tudo isso, “pós-guerra” foi um luxo que para a União Soviética jamais existiu. O país dos sovietes passou toda a sua história em estado de guerra, obrigado a se defender continuamente da burguesia mundial, em armas e ideologia.

Operação dropshot — os planos da Terceira Guerra Mundial

Desclassificado em 1977, o documento top secret “Dropshot — Plano Americano de Guerra com a União Soviética” traz um relato detalhado de como a União Soviética era vista pelos imperialistas, principalmente pelo Reino Unido e os EUA, e o que estava sendo planejado para arrasar completamente a nação soviética e todos os povos que ousassem seguir seus passos.

O documento foi apresentado em 1949 e traça um cenário em que a Terceira Guerra Mundial eclodiria em 1957. Embora no início dos estudos que resultaram no Dropshot, ainda antes do fim da Segunda Guerra, os norte-americanos acreditassem que seriam os únicos a possuir armas nucleares por vários anos, quando o documento foi apresentado, a União Soviética já havia feito seu primeiro teste nuclear, em 29 de agosto de 1949, detonando a bomba de plutônio RDS-1. Mas nem isso foi suficiente para os imperialistas mudarem de ideia. Estavam dispostos a atacar primeiro, e com ao menos 100 bombas atômicas.

Um elemento importante na contenção das ofensivas soviéticas seria o uso de armas atômicas e bombas convencionais contra LOCs, bases de abastecimento e concentrações de tropas na URSS, nos satélites e em países invadidos que apoiam diretamente os avanços soviéticos. Esses ataques, começando imediatamente após o Dia D, devem ser executados em coordenação e em complemento às operações dos elementos táticos aéreos e navais que são desenvolvidos sob outras tarefas. Em exames preliminares, considera-se razoável para atingir esses objetivos um número de cem bombas atômicas de um tipo ainda não disponível agora, mas cujo desenvolvimento e produção suficiente será possível até 1957.

Por terem sido lançadas em cidades e não em locais isolados do Japão, acredita-se que as bombas de Hiroshima e Nagasaki também serviram como testes nucleares, “em condições reais”. Imagem: reprodução

Os países imperialistas queriam simplesmente arrasar a União Soviética em horas, através de um inferno nuclear capaz de matar milhões de pessoas e destruir toda a capacidade econômica soviética. Ou morre pelas bombas, ou morre de fome e de contaminação radioativa.

Nestas condições, esperava-se que o povo russo iria se render rapidamente:

A capitulação precoce da URSS pode resultar de uma campanha de bombardeio atômico de eficácia tão impressionante que paralise toda a nação. Subprodutos importantes dos ataques seriam a destruição dos centros políticos e administrativos e dos sistemas de comunicação interna; além disso, provavelmente haveria um efeito psicológico extremo, que, se explorado, poderia induzir a capitulação precoce.

A guerra psicológica

Se os soviéticos aguentassem as pontas e não se rendessem, os planos dos EUA e sua turma previam uma longa guerra convencional além de fortes investidas de propaganda ideológica: a guerra psicológica.

A guerra psicológica pode ser uma arma extremamente importante na promoção de dissensão e deserção entre o povo soviético, minando seu moral e criando confusão e desorganização dentro do país. Poderia ser particularmente eficaz em operações subversivas dirigidas contra as nacionalidades étnicas que acolheriam a libertação, bem como contra o Exército Soviético, especialmente aqueles elementos que seriam estacionados fora das fronteiras da URSS.

Sem novidade para nós, vítimas do golpe imperialista de 2016, a guerra ideológica dos EUA se baseia em um profundo e detalhado estudo das características do povo a que se destina.

O povo da URSS é muito suscetível à guerra psicológica. A fraqueza mais significativa da União Soviética a esse respeito é sua política de manter seu povo na completa ignorância das verdadeiras condições tanto dentro quanto fora da URSS. O tema mais eficaz de um esforço de guerra psicológica dirigido contra a União Soviética seria que as potências ocidentais não estão lutando contra os povos da URSS, mas apenas contra o regime soviético e suas políticas de escravidão e exploração.

Veja que até mesmo eventual admiração pelos EUA não passava desapercebida e é intensamente explorada na guerra psicológica, exatamente como ocorre em nosso país hoje:

O respeito russo pela engenhosidade técnica e industrial americana também pode se revelar um fator importante para afetar o moral do povo soviético e sua disposição de fazer sacrifícios aparentemente inúteis por um esforço de guerra sustentado.

A propaganda norte-americana contra a URSS foi implacável até mesmo dentro dos EUA, com o chamado macartismo. Como por exemplo neste livreto publicado para escolas dos Estados Unidos. Imagem: reprodução

A análise dos “pontos fortes” e “fracos” dos soviéticos apresenta um resumo de tudo o que vemos na guerra ideológica da burguesia contra o marxismo em todos os países até os dias atuais. Embora, no documento, reconheçam que “os pontos fracos, na maioria dos casos, são potenciais e não reais”, chega a ser assustador o nível de planejamento e como os aparelhos ideológicos burgueses são hábeis em explorar cada possível fraqueza de seus inimigos de classe:

(a) Pontos fortes:

  1. A coragem, resistência e patriotismo nativos do povo soviético;
  2. A maquinaria elaborada e implacável pela qual o Kremlin exerce controle político centralizado em toda a órbita soviética, empregando forças policiais, propaganda e coação econômica e política;

III. O apelo ideológico do comunismo teórico;

  1. A aparente capacidade do regime soviético de mobilizar o patriotismo russo nativo para o esforço de guerra soviético;
  2. A capacidade do povo e da administração de travar uma guerra em circunstâncias de extrema desorganização, demonstrada nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial.

(b) Fraquezas:

  1. Desilusão popular e amargura entre certos grupos em toda a órbita soviética, resultante da implacável opressão e exploração soviética e comunista;
  2. O medo do estado policial permeando todos os elementos da sociedade soviética e satélite;

IV. A tradicional admiração de muitos povos soviéticos e satélites pelos padrões de vida das democracias ocidentais em geral e dos Estados Unidos em particular;

  1. Influência de grupos religiosos, especialmente entre os satélites;
  2. O nacionalismo nativo das populações satélites e de certos grupos étnicos da URSS;
  3. Provável desmoralização que resultaria dos deveres militares e de ocupação soviéticos em países estrangeiros.

VII. A extrema concentração de poder no Politburo do Partido Comunista, que lidera a máquina burocrática, tende a impedir a tomada de iniciativa e a desencorajar os indivíduos nos níveis inferiores do sistema de tomar decisões.

A guerra psicológica — e também econômica e “clandestina” —  seria empreendida não só nos países do chamado “bloco socialista”, com objetivos práticos que conhecemos bem, mas em todos os países, aliados, “neutros” e até mesmo dentro dos EUA. Os avanços nos meios de comunicação eram considerados de grande valia para os planos imperialistas. Ajudariam muito a acabar com a confiança e vontade de luta do povo, mais fácil e rapidamente:

(1) A guerra psicológica, econômica e clandestina é um complemento essencial das operações militares na realização de objetivos nacionais e militares. As grandes melhorias nos campos das comunicações foram um fator importante neste desenvolvimento. Esse tipo de guerra, se bem empregado, pode desempenhar um papel importante na superação da vontade de lutar de um inimigo.

(2) Medidas psicológicas e econômicas dirigidas a nossos aliados e nações neutras podem ser de importância comparável àquelas medidas dirigidas a nossos inimigos. Do ponto de vista militar, tais medidas — cuidadosamente integradas às políticas, planos e operações militares — podem facilitar o andamento militar da guerra.

O grande inimigo: a revolução proletária mundial

Há alguns grupos da esquerda brasileira que acusam a União Soviética de não ter agido de forma eficaz pela revolução mundial. Seria espantoso para eles então o que a inteligência dos países imperialistas, principalmente dos EUA, pensava a respeito.

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Para os EUA, os objetivos da URSS eram bastante claros: derrubar a burguesia internacional e construir um mundo comunista.

A ideologia comunista e o comportamento soviético demonstram claramente que o objetivo último dos líderes da URSS é o domínio do mundo. Os líderes soviéticos afirmam que o Partido Comunista Soviético é a vanguarda militante do proletariado mundial em sua ascensão ao poder político e que a URSS, base do movimento comunista mundial, não estará segura até que as nações não comunistas tenham sido tão reduzidas em força e números que a influência comunista torne-se dominante em todo o mundo. O objetivo imediato de prioridade máxima desde a guerra recente tem sido a conquista política da Europa Ocidental. A resistência dos Estados Unidos é reconhecida pela URSS como um grande obstáculo para o alcance desses objetivos.

O Dropshot demonstra que os EUA conheciam o objetivo dos esforços da Terceira Internacional e da União Soviética: derrubar a burguesia internacional. Imagem: reprodução

A “conquista política”, exatamente o trabalho a que se dedicavam milhares de militantes dos PCs espalhados pelo mundo, especialmente na Europa, para os EUA, trazia o mesmo risco de tomada de poder que uma invasão militar.

A guerra política, econômica e psicológica que a URSS está travando agora tem potencialidades perigosas para enfraquecer a posição mundial relativa dos Aliados e perturbar suas instituições tradicionais, a menos que seja encontrada resistência suficiente nas políticas dos Aliados e outros países não comunistas. A dominação soviética do poder potencial da Eurásia, seja por agressão armada ou por meios políticos e subversivos, seria estratégica e politicamente inaceitável para os Estados Unidos.

A burguesia internacional sabia — e sabe muito bem até hoje — que se os países forem caindo, um a um, nas mãos da revolução popular, pouco ou nada poderão fazer todos os seus exércitos, sua força política ou ideológica. Tratam esta possibilidade como um perigo constante a ser cuidadosamente evitado.

Além do risco de guerra, um perigo igualmente a ser evitado é a possibilidade de que a guerra política soviética possa enfraquecer seriamente a posição relativa dos Aliados, aumentar a força soviética e levar à nossa derrota final antes da guerra ou nos forçar a guerra sob condições extremamente desfavoráveis. Tal resultado seria facilitado por conceitos vacilantes, apaziguadores ou isolacionistas, levando à dissensão entre os Aliados e à perda de sua influência; por desunião interna ou subversão; pela instabilidade econômica na forma de depressão ou inflação; ou por despesas excessivas ou inadequadas com armamento e ajuda militar.

A enorme força política da Terceira Internacional, enfim, era um dos braços do poder soviético, que, juntamente com o poder militar, era visto como amplamente capaz de determinar a extinção do capitalismo, como sistema político-econômico dominante. Ou seja, poderia derrotar a burguesia mundial.

O objetivo final da URSS é o domínio de um mundo comunista. Por cem anos, a vitória na luta de classes do proletariado contra a burguesia foi identificada como o meio pelo qual o comunismo dominaria o mundo. Os únicos fatos novos significativos que surgiram foram o controle estrito do comunismo mundial pela Rússia Soviética e a possibilidade de que a URSS possa agora estar entrando em uma era em que o objetivo final pode ser alcançado pela força militar se todos os outros métodos falharem.

E continua.

A atual capacidade soviética de ameaçar a segurança dos Estados Unidos por meio de medidas que não sejam de guerra se baseia em:

  1. A centralização completa e efetiva do poder em toda a URSS e no movimento comunista internacional.
  2. O apelo persuasivo de uma ideologia pseudocientífica prometendo panaceias e trazida a outros povos pelos intensos esforços de uma moderna máquina de propaganda totalitária.
  3. As técnicas altamente eficazes de subversão, infiltração e captura de poder político, trabalhadas por meio século de estudo e experimento.

O poder de usar o poderio militar da Rússia e de outros países já capturados para fins de intimidação ou, quando necessário, ação militar.

  1. O grau relativamente alto de instabilidade política e social que prevalece nesta época em outros países, particularmente nos países europeus afetados pela guerra recente e nas áreas coloniais ou atrasadas das quais essas áreas europeias dependem para seus mercados e matérias-primas.

  2. A capacidade de explorar a margem de tolerância concedida aos comunistas e seus seguidores em países democráticos em virtude da relutância de tais países em restringir as liberdades democráticas apenas para inibir as atividades de uma única facção e pelo fracasso desses países em expor falácias e males do comunismo.

Já se vê que as “liberdades democráticas” deveria ser restringidas sem relutância em qualquer país onde a ideologia não fosse capaz de convencer o povo contra o comunismo.

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Se não fosse um documento oficial do núcleo duro do governo dos EUA, muita gente poderia achar que tudo isto não passaria de conversa de terraplanista conspirador. Natural. Em todas as guerras a propaganda sempre visa a diminuir a fé das pessoas comuns nas forças do inimigo, mas os EUA não deixam dúvidas: mesmo após uma hecatombe nuclear, seria fundamental apagar qualquer fagulha de bolchevismo.

Se algum regime bolchevique for deixado em qualquer parte da União Soviética, deve ser assegurado que não controle o suficiente do potencial militar-industrial da União Soviética para permitir que faça guerra em termos comparáveis ​​com qualquer outro regime ou regimes que possam existir no território russo tradicional.

E como nos livrarmos da hecatombe fascista dos EUA?

Não há muitas dúvidas de que o rápido domínio da tecnologia nuclear por parte dos russos está entre os mais relevantes motivos que concorreram para nos salvar do apocalipse nuclear preparado pelos EUA. 

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E o interessante é que foi um cientista americano, aluno de Harvard, quem repassou para os russos as informações cruciais para o desenvolvimento da primeira bomba atômica soviética: Theodore Hall. Estudante exemplar, Hall foi recrutado pelo governo dos EUA para trabalhar no Projeto Manhattan, onde seria desenvolvida a primeira bomba atômica do planeta.

Theodore Hall foi o cientista mais jovem do famoso Projeto Manhattan, que criou a primeira bomba nuclear da história. Imagem: Los Alamos National Laboratory Handout

Mas antes de entrar para o governo norte-americano, Hall já havia passado por outra espécie de recrutamento. Seu colega de quarto em Harvard, Saville Sax, era comunista, filho de imigrantes russos. Ligado ao PC soviético, assim que Hall teve em mãos os projetos principais da bomba de plutônio ele os repassou para os russos. Não por acaso, a primeira bomba soviética tinha enorme semelhança com a “Fat Man”, lançada em Nagasaki, em 1945.

“Talvez o curso da história, se inalterado, pudesse ter levado à guerra atômica nos últimos 50 anos, por exemplo, uma bomba poderia ter sido lançada sobre a China em 1949 ou no início dos anos 50. Bem, se eu ajudei a evitar isso, aceito a acusação”, declarou Hall.

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Hall não tinha acesso aos documentos do Dropshot, nos anos 50, mas acertou em cheio. Como militante comunista sabia muito bem do que se trata o poder burguês: a única e real fonte de todo o fascismo mundial, cujo sonho dourado é arrasar completamente qualquer organização que o povo construa em busca de sua libertação, seja um pequeno sindicato ou o enorme país dos sovietes.

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