15 anos do movimento “Cansei” lembram ascensão e queda de Doria

O clima de demissão por justa calça do ex-governador, ex-prefeito e ex-pré-candidato à presidência, João Doria, fez lembrar um evento cômico, mas que causa muita vergonha alheia, em 2007. Empresários e alguns artistas, que possuíam em comum a conta bancária gordinha, muita fartura na mesa e uma vontade absurda de cancelar a Lei Áurea, se juntaram no movimento “Cansei”. Na época, o tal movimento se colocou como apartidário, jurando de dedinho cruzado que as críticas eram para todos os políticos, contudo, não perdiam a oportunidade de atacar Lula e o governo de políticas públicas para pobres.

Por que relembrar agora um capítulo tão deplorável da história brasileira? Bom, primeiro porque praticamente todos os capítulos dessa história são ruins, algo digno de roteiro de novela da Record. Mas, segundo, e mais importante, é para lembrar quem se somava às fileiras dos sindicatos patronais. João Doria Jr. era um dos organizadores do evento “Cansei”: um grande ato na Praça da Sé em 2007. Um ano antes, Doria estava arrecadando fundos para a candidatura de Geraldo Alckmin nas eleições de 2006. De fato, a vida não gira, ela capota de patinete.

Ao lado de João Doria, figuras como Hebe Camargo, Ivete Sangalo, Carlos Alberto da Nóbrega e outros nomes que beiravam o ostracismo e a pecha de subcelebridade, compareceram ao tal evento na Praça da Sé. A pauta do movimento era um pouco turva, assim como os pensamentos dessas pessoas. Uns diziam ser pelo fim da corrupção, outros pelo fim da impunidade… Alguém disse que Hebe Camargo não aguentava mais ver criancinhas no semáforo vendendo balas, mas também teve 1 minuto de silêncio pelas vítimas de um acidente que acabara de acontecer com um ônibus da LATAM.

Hebe Camargo bem cansada

O fato é que, coincidentemente, o mote principal desse movimento era o “caos aéreo”. Isso num momento em que a classe C não apenas ascendia socialmente cada vez mais mais graças às políticas do governo Lula, como também ascendia literalmente às nuvens. O pobre passava a viajar de carro e de de avião. Antes do governo Lula, a média de passageiros contabilizada pela ANAC era de 37 milhões, enquanto em 2015 esse número já alcançava os 96 milhões. Para horror de dezenas de subcelebridades paralizadas de botox, porteiros e empregadas domésticas passaram a frequentar as mesmas aeronaves antes exclusivas da classe média e alta.

Corta a cena. Voltamos à Catedral da Sé, 2007. Doria, Hebe Camargo, Agnaldo Rayol e mais um monte de gente branca e rica esperneando, na verdade, porque agora os pobres estavam lotando os aeroportos. Hoje, nem de avião, nem de carro, mal tá dando pra sair de bike. Se for pra ir pra Sé então, melhor vestir colete, capacete e armadura, a bike tem que amarrar no pé pra não levarem, isso graças as políticas pós-golpe de extermínio de pobre .

Não temos mais Hebe Camargo, João Doria está espatifado no chão da vergonha, com a testa ralada, Regina Duarte chegou a passar pelo governo Bolsonaro, mas voltou ao ostracismo. Por outro lado, o Cansei com certeza teria adeptos tipo Gusttavo Lima — massacrado pelo cy da Anitta —, Tabata Amaral, Juliana Paes, Humberto Martins e todas essas pessoas que parecem temperar o café com Rivotril e Lisoform todas as manhãs.

Agora, 15 anos depois, esse monte de gente branca e rica volta a ter pesadelos com passagens baratas e aeroportos cheios. Daqui dá pra ver que o estresse é tanto que a pálpebra da Suzana Vieira está tremendo. Quinze anos depois, após uma viagem cheia de turbulência, Lula está prestes a voltar à presidência, trazendo na bolsa de mão muita responsabilidade. Do lado de cá, na área de desembarque, uma multidão cheia de expectativa o aguarda, pronta para ajudá-lo a carregar sua bagagem de volta para casa.

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