Há 76 anos, morria Mussolini 

por William Dunne

Na tarde do dia 28 de abril de 1945, o fascista Benito Mussolini encontrou a morte na pequena vila (em 2005 contava com 50 habitantes) de Giulino di Mezzegra. O ditador tinha 61 anos quando foi capturado e fuzilado por guerrilheiros partisanos da Resistência italiana. Antes tão altivo, projetando publicamente uma imagem de valentão, o político de extrema direita encerrou sua carreira tentando fugir para a Suíça. Junto com ele estava sua amante Clara Petacci, que também acabou fuzilada.

No dia seguinte, ao lado de outras figuras proeminentes do fracassado regime fascista, os dois foram pendurados de cabeça para baixo, presos à viga de um posto de gasolina ao lado da Praça de Loreto, em Milão, o que ficou registrado em uma das mais representativas imagens do século XX. Os corpos foram profanados pela multidão, que deu vazão à sua ira depois de décadas de ditadura, assassinatos políticos, perseguição, sufocamento do movimento dos trabalhadores e do resultado trágico da guerra para a Itália, derrotada e destruída.

Não há consenso sobre quem teria matado Mussolini. A versão mais provável é que ele teria sido assassinado pelo guerrilheiro partisano Walter Audisio, comunista que usava o codinome de “Coronel Valério”. Audizio chegou a afirmar que disparou em atendimento ao “Decreto para a administração de justiça”, lançado pelo Comitê de Libertação Nacional da Alta Itália dois dias antes. Nos bastidores, a ordem teria partido do chefe comunista dos partisanos Luigi Longo, que teria dito a Audisio: “vai e dispara!”

A tentativa de fuga

Mussolini já estava perto da fronteira com a Suíça quando capturado. Ele partiu em um comboio alemão, disfarçado de soldado nazista. Não seria a primeira vez que Mussolini teria empreendido uma fuga com ajuda dos alemães. Em 1943, depois da invasão da Sicília, o rei Vitório Emanuel ordenou que o Grande Conselho Fascista destituísse Mussolini do governo, em uma tentativa de evitar a invasão da Itália continental. Mussolini ficou então preso no hotel na região do Gran Sasso. Naquela ocasião, Hitler enviou um homem da força aérea, Otto Skorzeny, para comandar uma cinematográfica operação de resgate, levando o líder fascista para comandar um regime fantoche no norte da Itália, ocupada pelos alemães, que ficaria conhecido como República de Salò, oficialmente República Social Italiana.

Dessa vez, porém, a fuga não teria sucesso. O comboio nazista que levava Mussolini, liderado por um tenente da Luftwaffe chamado Schallmayer foi identificado pelos partisanos da Brigada Garibaldi, sob o comando de Urbano Lazzaro, às 6 e meia da manhã do dia 27 em Dongo. Depois de um intenso tiroteio, Schallmayer percebeu que, em desvantagem, era melhor negociar. Os partisanos identificaram Francesco Barracu, funcionário da República de Salò, disfarçado de diplomata espanhol. Logo Schallmayer compreendeu sua situação e negociou a partida dos alemães em troca de entregarem todos os italianos que estavam no comboio.

Quando os partisanos foram verificar os documentos dos italianos capturados, Giuseppe Negri reconheceu Mussolini e comunicou Lazzaro, que fez Mussolini assinar um documento dizendo ter sido capturado pela Brigada Garibaldi e que teve um tratamento correto. Lazzaro descreveu Mussolini aquele dia nas seguintes palavras: “seu rosto parecia como cera e seu olhar era vítreo, mas de alguma forma cego. Eu vi uma expressão de exaustão extrema, mas não de medo … Mussolini parecia ter aberto mão da vontade de viver, estava espiritualmente morto”.

Cão sarnento

Às duas e meia da manhã do dia 28, Mussolini foi levado de volta a Dongo. A notícia de sua captura já se espalhava. Em uma mensagem pelo rádio, um dirigente do Comitê de Libertação Nacional disse: “O chefe dessa associação de delinquentes, Mussolini, enquanto amarelo com rancor e medo tentava atravessar a fronteira com a Suíça foi preso. Ele deve ser entregue ao tribunal do povo para ser julgado rapidamente. Nós queremos isso, mesmo que pensemos que um pelotão de execução seja uma honra muito grande para este homem. Ele merece ser morto como um cão sarnento”. Não se sabe ao certo o autor dessas palavras, possivelmente proferidas por Sandro Pertini, que se tornaria presidente da República Italiana. Entre as incógnitas deixadas pela história, o certo é que Mussolini acabou morto como um “cão sarnento”, gravado na história como exemplo de como o fascismo deve ser combatido.

Imagem: Vicenzo Carrese / Domínio Público

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