Viés | por Fernanda Noal

#FlautaVertebrada: a procura por um viés próprio na jornada do encontro com si próprio, “Pois entende que para haver a chegada / É preciso antes ter havido a partida”

Imagem: Michael Gada
por Fernanda Noal

Vem como um suspiro
Que aos poucos vai deixando o corpo
Vem de repente
Como quem encontra uma razão pra ficar
E não teme as idas
Pois entende que para haver a chegada
É preciso antes ter havido a partida

Vai aos poucos costurando
Os rasgos da pele que reveste a alma
Vai aos poucos descobrindo
Os gatilhos que destroem a calma

Vai preferindo o tranquilo silêncio
O encontro consigo mesmo
O não temer olhar no espelho
O não deixar de se amar
Pois sabe que amor de outros, mesmo cabendo
Não serve de nada
Se o amor próprio não vier primeiro

Vai deixando de deixar-se
Esquecido em gavetas que já perdeu a chave
Vai querendo arriscar o voo
O estrondo meteórico
De querer-se
De saber-se
De encontrar-se

Sem morar no atraso
Do viés alheio.

 

Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quartas-feiras.

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