Vidas negras importam e a única vez que saí no soco em SC

Um playboy otário que cresceu soltando pipa no ventilador veio atrás de mim na rua e me perguntou: – “Ae, o que você tem aí?”

Imagem: o "Mendigato"
uma crônica de Vinícius Carvalho

Quem fica repetindo essa baboseira de que “todas as vidas importam”, estão falando uma besteira sem tamanho e, pior, estão querendo defender o indefensável utilizando alegorias do senso comum. Afinal, é óbvio que todas as vidas importam, e justamente por isso, é importante ressaltar que “vidas negras importam” porque eles são as maiores vítimas dos processos de violência e dos processos de precariedade e racismo estrutural que o capitalismo lhes enfia.

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Vocês lembram do “mendigato”? Um morador de rua branco, com estereótipo de modelo e olhos claros que, descoberto pela imprensa, rapidamente arrumou emprego, matéria no Gugu e até um casamento com uma mulher de classe-média? Pois é. E se fosse negro? Vou contar só umas coisinhas que aconteceram comigo aqui em SC para vocês terem uma ideia da gravidade.

No Rio eu sou tirado por BRANCO, mesmo sem ser, porém sei, por outro lado, que não sou “retinto”. Só que eu não fazia a menor noção disso, e quando vim morar em Santa Catarina, logo no primeiro emprego, meu chefe, um senhor do Rio Grande do Sul ficava me encarando direto, uma vez incomodado perguntei porque ele me olhava tanto, ele só respondeu: “Bahhhh, desculpa Vini, é que você parece muito o meu filho adotado que está lá em Passo Fundo com a mãe, ele é assim BEM NEGRINHO como você”. Ok. Vi ali que a forma como eu era encarado aqui seria diferente. Fiquei relativamente “excitado” com aquilo. “Pô, aqui sou visto como negro? Que maneiro”.

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Porém, lembro também da última vez que briguei aqui em Floripa. Em 2014, já na UDESC, pouco antes da Copa do Mundo, saí mais tarde da aula e fui encontrar os camaradas no antigo Bar do Capenga, chegando lá, não tinha ninguém porque geral havia ido para outro boteco, o “Sobradinho”. Mal botei o pé lá sozinho, perguntei ao Sandro pela rapaziada ele disse que estava no outro boteco, e quando fui saindo, um BRANCÃO TRONCUDINHO COM CASACO DA ATLÉTICA DA ESAG, COM CARA DE PLAYBOY E DE OTÁRIO QUE CRESCEU JOGANDO BOLA DE GUDE NO TAPETE E SOLTANDO PIPA NO VENTILADOR, veio atrás de mim na rua escura e me perguntou:
– “Ae, o que você tem aí?”
Eu não entendi nada e respondi: – “Tenho o quê, maluco?”
– “Que você tem aí pra me passar pô?”
Entendi TUDO depois daquela frase, fiquei puto e mandei:
–”Vai tomar no cu, bicho, tá achando que eu sou o quê? Tenho porra nenhuma não. Tô vindo da mesma universidade que você, por sinal”
Aí ele mandou: – COM ESSA CARA AÍ JOGADOR? DUVIDO. VAMO, ANDA, TO COM 20 PILA AQUI, PASSA UMA BUCHA.

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Teve nem desenrolo. Mandei um socão no MEIO DA BOLINHA DA GARGANTA DELE, já caiu no chão com falta de ar, arrastei até o matagal da beira do valão que tinha ali perto do Capenga e deixei lá respirando igual uma TARTARUGA QUE SE ENGASGOU COM UM CANUDO. Só não mijei em cima na frente de geral, que é o que eu costumo fazer, porque tinha criança na rua. Filho da puta!
Mas e se fosse um PM a noite me confundindo com um VAPOR do tráfico? Eu ia fazer o que?

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