Silvano | por Felipe Mendonça

#FlautaVertebrada: “Ah, viver no enleio / De braços, pernas / E seios, / Devasso / A sempre cair preso / No laço dos desejos”

Imagem: Walter Battiss
por Felipe Mendonça

Silvano é alegre!
Sinto amor,
Sinto febre,
E corro nu
Como as gazelas
Atrás de lebres
E donzelas.

Seduzo as mais belas
E nos eflúvios do álcool
E da cocaína
Faço amor com elas
Porque amar
É minha sina,
Viver entre mancebos
E concubinas,

Ao som
De tambores e flautins,
Ébrio de orgias
E festins
Com efebos e meninas.

Ah, viver no enleio
De braços, pernas
E seios,
Devasso
A sempre cair preso
No laço dos desejos.

Pinto o rosto,
Ponho máscaras
E levo ao riso.

Impressiono,
Cabotino,
Mulheres e meninos
Só para ter
De rosetas e falos
Os altos páramos
De um orgasmo.

Beijo, beijo, beijo
E amo com ardor e pressa
Porque a morte é certa
E a velhice é ruína
Sem qualquer promessa.

Porque só no gozo
Antevê a alma
Aquela profunda calma
De não carecer
De ascese ou cabala,
De sentir-se livre
De todas as jaulas –
Êxtase do nada!

Silvano é alegre!
E não há
Como não sê-lo
Quando o dia é breve,
Mas repleto
De promessas
E enlevos.

 

Felipe Mendonça é poeta e ensaísta brasileiro, nascido em 1976, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, que cresceu no Rio de Janeiro no bairro da Ilha do Governador. Hoje vive em Belford Roxo/RJ. É mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Administra um blog de poemas chamado “Poesia, necessário pão” em que publica poemas de sua autoria, tendo publicado em 2018, pela Chiado Books, um livro de poemas intitulado “Reescritos”. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às segundas-feiras.

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