#FlautaVertebrada: “escrevo então para me solidarizar / com milhares de pessoas que estão hoje / órfãs de seus entes.”

por Helena Arruda
escrevo poemas para estancar a dor que é
acordar num país incivilizado,
enterrado na lama fétida dos genocidas
negacionistas reacionários fascistas
que batem palmas para as mortes e riem delas.
gargalham.
não, eu não vou desistir de escrever poemas,
porque para estancar minha hemorragia,
eu preciso da palavra amor
[rosa-dos-ventos-na-multidão-da-vida]
escrevo então para me solidarizar
com milhares de pessoas que estão hoje
órfãs de seus entes.
não, eu não vou desistir de escrever poemas,
porque para estancar essa dor indizível,
que é ver essa multidão-de-corpos,
eu preciso dizer
seus nomes,
suas vidas,
suas profissões,
identidades.
Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.