Não sei se já estavam na mesma fileira, se ele convidou a Regina para se sentar ao seu lado – eu também me sentaria

por Tom Cardoso
2020 tá acabando e a entrevista da Regina Duarte não saiu da minha cabeça.
Primeiro, fiquei pensando no bonitão do repórter, meio cabaço, e que ainda por cima se chama Daniel Adjunto. Coitado, é foca e ainda tem esse sobrenome. Pelo que eu entendi da história, ele encontrou a atriz num voo para Brasília. Não sei se já estavam na mesma fileira, se ele convidou a Regina para se sentar ao seu lado – eu também me sentaria.
Um amigo meu, também jornalista, estava no mesmo voo e disse que a Porcina segurou a mão do Adjunto durante uma turbulência. Enfim, parece que a entrevista para a CNN foi combinada ali mesmo, nesse clima de afeto e cumplicidade.
Não me surpreende, portanto, o olhar da Regina para o repórter, enquanto os outros jornalistas da emissora faziam perguntas mais assertivas.
Enquanto eles perguntavam, ela olhava para ele, fixamente, virando o pescoço, como se dissesse: “Você vai deixar eles fazerem isso comigo? Não deixe…Me proteja… Segura na minha mão!”
A entrevista teve vários lances bizarros. Gostei especialmente quando ela juntou o jingle da ditadura com a coreografia dos Menudos – um grande momento da cultura brasileira. O melhor estava reservado para o final. A âncora anuncia que um artista faria uma pergunta para a Regina Duarte.
Fiquei imaginando quem seria. Paulo Betti? Fernanda Montenegro? Zélia Duncan? Criolo?
Não, Maitê Proença.
Primeiro, me assustei com o tamanho da sala da moça. Um latifúndio. Acho que caberia a cachoeira inteira da Dona Beija ali. Tadinha, ela não tem culpa de ser tão rica e de não ter conseguido se casar, o que lhe dará o direito de receber, por lei, o salário integral do pai procurador.
Uma grande brasileira, não há dúvida.
Mesmo fazendo campanha para o Bolsonaro, Maitê estava ali, de cara limpa, criticando uma colega de trabalho, integrante do governo, o que certamente lhe causaria alguns constrangimentos. Mas o que a gente não faz pela cultura desse país, né?
Fui dormir assustado.
E o Adjunto não estava aqui para me dar a mão.