[poema da cura] | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: “ouço ruídos / : minúsculos seres despertam / com delicada melodia os humanos sentidos / há muito adormecidos pela dor”

Imagem: Milica Nogueira
por Helena Arruda

nas órbitas dos meus olhos castanhos cintilam
pequenas esperanças iluminadas
pelo sol do fim do dia
: cristais cravejados, seixos dos rios
pingos brilhantes de chuva
teias rasgadas
buracos
vazios
grandes temporais.

[da janela do mundo]

ouço ruídos
: minúsculos seres despertam
com delicada melodia os humanos sentidos
há muito adormecidos pela dor
da perda dos entes queridos
num mundo doente
[anterior]

sob as cinzas da pandemia
a terra grávida pulsa
expurgando todos os vírus letais
: da doença
: da ganância
: dos pecados capitais.

[da janela da vida]

entendo o dentro do dentro de mim
: ostra solitária encharcada de sais
vida inundada de desejos
possibilidades reais
: útero fecundado
: planeta curado
: sentimentos abissais.

[da janela]

silenciosa,
respiro, então,
em paz.

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.

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