Passeio na praia | por Andri Carvão

#FlautaVertebrada: “De toca e cachecol mantenho / as mãos nos bolsos, junto os pés, / e um filme passa diante de meus olhos”

Imagem: Linda Staf
por Andri Carvão

Passeio pela praia em pleno inverno.
Não vejo viva alma na areia,
sequer um vira-lata perdido.
Num giro de 360º
um campo vasto e deserto.
Um barco de pesca desliza na linha
do horizonte (parece parado).
Uma gaivota risca o céu.
Mergulha de bico no mar
e alça voo de patas vazias.
Plana por alguns instantes
até que empreende novo mergulho.
Mas é inútil – nada. O vento
canta e zune vuh na minha cara.
De toca e cachecol mantenho
as mãos nos bolsos, junto os pés,
e um filme passa diante de meus olhos:
a luta da gaivota pela refeição do dia,
o barco pesqueiro ancorado no horizonte
e a praia desolada.
Sem turistas nem ambulantes,
sem barracas nem cadeiras,
sem guarda-sóis nem esteiras,
jogos de areia ou esportes radicais
e tudo o mais que movimente a praia.
Mas as ondas, ah as ondas
elas não cessam: o vai e vem da arrebentação
troca detritos por conchas.

 

Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, o autor tem diversas publicações online e antologias. Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books, 2018], Poemas do Golpe [editora Patuá, 2019] e Dança do fogo dança da chuva [editora Penalux], entre outros. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às terças-feiras.

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