Organismo vivo | por Fernanda Noal

#FlautaVertebrada: “A vida sopra em forma de vento / Aos meus ouvidos / Ora lamentos / Ora ressurreições”

Imagem: Cherngchay Donkhuntod
por Fernanda Noal

Tento me libertar de pesos
Sentimentos mortos
Apodrecidos
Que dilaceram peitos
Promovem ruídos
E interrompem o silêncio

Entre as vielas do meu corpo
Organismo vivo
Tecem-me as palavras
Fogem-me os gritos
Encontram-me os destroços
Do que não sou capaz de calar

O sangue bombeado
Por esse frágil coração
Que a tudo resiste:
Tabaco
Nicotina
Tristezas infinitas
Revoltas
Esperanças
Lembranças

Segue trafegando por meu interior
Esse sangue
Que não me deixa esquecer
Que está vivo

A vida sopra em forma de vento
Aos meus ouvidos
Ora lamentos
Ora ressurreições

E o tempo é sopro
Que me envolve
E me consome
É intenso mastigar
Infinito arquitetar
De incógnitas dimensões

Enquanto descubro-me a habitar
Simultaneamente todas elas
E nenhuma

Sinto que o sopro do tempo
Em sua máxima intensidade
De um milésimo de segundo
É o mesmo
Por toda a eternidade.

 

Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quartas-feiras.

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