Nem todos os ventos são brisas | por Fernanda Noal

#FlautaVertebrada: “Nem todos os passos são largos / Nem todos os passos partem / De um trajeto que eu já não tenha percorrido”

Imagem: Jennifer Stackpole / Divulgação
por Fernanda Noal

Estou aqui
Já estive antes
Tenho certeza que já vi
Essas mesmas flores
florescerem
Em primaveras longínquas
E secas caírem
Em outonos em que me vi líquida
A regar jardins

Perdidas no esquecimento
Da não existência
Das partidas e das vindas
Que me moldaram a face
E os pensamentos
Essas mesmas flores coloridas
Perfumam meus espectros
Enquanto me observo
Livremente a florir

Nem todos os passos são largos
Nem todos os passos partem
De um trajeto que eu já não tenha percorrido
Nem todos os ventos são brisas
Nem todos os ventos sacodem partidas
Que eu já não tenha visto

De tantos desencontros me perdi
De tantos reencontros me calei
A observar o broto crescer lentamente
Sem pressa e sem tempo a perder
Reencontrei uma fuga do caos
Num esquecimento confortável
Quase um milagre

Contemplando os caminhos
Contemplando os espinhos
Que não ousei tocar
Nem pra podar, nem pra plantar
Nem pra poder me libertar
De todos os lugares e tempos
Em que já estive
Embora agora eu já não saiba.

 

Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017.

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