[naufrágios] | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: no “oceano-azul-das-palavras-que-me-moram”, o poeta é sua própria embarcação atravessando as tempestades

Imagem: Digalakis Photography
por Helena Arruda

sobre o mar ondulante
minha embarcação segue à deriva.
sou obrigada a pegar o leme e a jogar no mar
tudo o que não quero, na tentativa de flutuar
um pouco mais.
o barquinho segue afundando
:água por todos os pequenos orifícios.
sou minha própria embarcação. não cabem nela
desassossegos desmemórias
desviveres. vivo.
subo na proa e tento encontrar a ilha, mas descubro
com saramago minha existência
: cruzo as fronteiras do pensamento e
atravesso sem cessar
as tempestades.
na linha do horizonte alaranjado,
encontro alguma esperança,
um punhado de paz.
sempre amanheço
em apneia
no oceano-azul-das-palavras-que-me-moram e
lembro que ainda posso nadar.

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020).

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