#FlautaVertebrada: “mas qualquer hora eu nasço, / em algum momento eu chego / e permaneço um pouco mais.”

por Helena Arruda
hoje acordei com aquela sensação
de não ter nascido ainda.
mas qualquer hora eu nasço,
em algum momento eu chego
e permaneço um pouco mais.
e serei ouvida e serei alguma coisa
que valha e serei um sol
ou um flamboyant florido em setembro
com as mãos estendidas para o infinito.
hoje eu acordei com aquela sensação
de não ter nascido ainda.
mas qualquer hora uma estrela cadente
passa e me vê e me aponta o caminho
para o mundo longínquo
das constelações.
por enquanto sou só o pó e a neblina
o mato rasteiro que tenta se agarrar
às pequenas coisas que dão algum tipo
de contentamento, tanto faz.
Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.