Morro um pouco todo dia | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: “olho o arvoredo do bosque que me abraça / e penso que as árvores me dizem coisas”

Imagem: Detalhe de "Floresta crepuscular", de Lasar Segall
por Helena Arruda

clarões me invadem nessa manhã fria e cinzenta de domingo
olho o arvoredo do bosque que me abraça
e penso que as árvores me dizem coisas
de repente, vem uma tormenta e
meus pensamentos voam – corujas agourentas
onde está a poesia?
nas lágrimas ácidas que queimam minha língua
que passo sobre seu dorso suado
[de sexo]
meu coração esgarçado de dores explode em raios
[de ira]
e a floresta me espreita pelas frestas de luz entre os galhos
[griverdosos]
arranhada, me refaço e mergulho no oceano
[das palavras]
enquanto seu dorso suado de sal se deita sobre meus seios nus,
eu sinto o cheiro acre da morte
que me olha da porta do quarto
fecho os olhos, porque tenho medo dela,
mas ela me espera
e de manhã, ao despertar, ela vem me dar bom dia
[adormeço]

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.

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