[minha palavra] | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: visceral, a palavra hemorrágica e vomitada que “ecoa por aí gritando / jorrando líquidos em delirantes contrações”

Imagem: Sergey Nivens
por Helena Arruda

minha palavra presa na garganta
ganhou ares de papagaio e voou.
voou alto
rasgou céus
bateu em galhos e fios de alta tensão.
minha palavra, feita de suor e lágrimas
escorreu pelo meu rosto
e empapou de sal meu vestido floral.
minha palavra hemorrágica fluiu de mim
e estancou no outro
sua fala.
perplexa, minha palavra foi vomitada
expurgada do meu peito
em meio a espasmos dolorosos.
minha palavra é tão forte
é tão alta
é tão grande
que ecoa por aí gritando
jorrando líquidos em delirantes contrações.
minha palavra libertou-se de mim.

(Interditos, Rio de Janeiro: Batel, 2014)

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020).

Deixe uma resposta