Luto | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: em tempos de Covid e descaso, um poema inédito sobre o que sentimos diante das notícias da pandemia

Imagem: Jutamas Singraj
por Helena Arruda

hoje,
desescrevi o poema
desvivi os meses
desenterrei os mortos.
hoje,
desamanheci o dia
desacreditei nos homens
desatei os elos.
hoje,
desmontei a casa
destranquei as portas
desorientei os ventos.
hoje,
desanoiteci nas sombras
descabelei as ideias
desabei em lágrimas
à procura da esperança
: desaparecida.

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.

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