O Bonfa é um típico bairro de classe média, habitado por gente que sonha em ser chamado de coxinha

por Tom Cardoso
Fui depositar o que devo pro Chico Barbosa e encontro José Genoíno na fila do caixa. Sou um sujeito impulsivo:
– José Genoíno! – gritei, abrindo os braços em sua direção.
Ele estendeu a mão e deu um sorriso amarelo. O cara estava curtindo um raro momento de anonimato. Fiquei também com cara de bunda.
– Genoíno Petrolão!
– Vai pra Cuba e leva o Palocci!
– Aqui não tem dinheiro da Lei Luanê!
Falei para as pessoas se acalmarem e quando me virei o Genoíno tinha evaporado. Para um cara que se escondeu durante um tempão no Araguaia, era moleza encontrar saídas estratégicas até mesmo na acanhada agência do Banco do Brasil do Jardim Bonfiglioli.
O Bonfa é um típico bairro de classe média, habitado por gente que sonha em ser chamado de coxinha – sim, é sinal de status por aqui. O sonho dos meus vizinhos é poder reunir um dia a família inteira dentro de uma varanda.
Eu tenho ambições menores. Só queria pagar minha dívida com o Chico. Era para ser um fim de manhã tranquilo. Era. A agência toda olhava pra mim, indignada com o cara que havia dado um abraço fraternal “num dos líderes da maior quadrilha da história do país”. Passei a ser xingando de tudo quanto é nome. A vida não é fácil no Texas da Zona Oeste. Nem ousei em tirar o meu Iphone do bolso. O nível de tolerância costuma ser ainda menor com pessoas que dizem ser de esquerda, mas alimentam hábitos burgueses. Fechei os olhos. Fingi que estava dormindo.
Abri os olhos meia hora depois. A agência ainda estava lotada, mas dessa vez todos olhavam para o painel de senhas. Uma senhora estava sentada do meu lado. Assim que eu “acordei”, ela ergueu o meu braço e pediu um minuto de atenção. Foi como numa partida de tênis: dezenas de cabeças mudando ao mesmo tempo de lado. Olhando pra mim.
– Eu tenho orgulho desse jovem aqui. E quer saber de uma coisa, seus coxinhas de merda: o Sérgio Moro é o maior fela da puta do Brasil!
Nem sei como achei a saída de emergência do Genoíno.
Chico, amanhã tá na conta, tá?