#FlautaVertebrada: um divertido poema narrativo conta na linguagem de seus protagonistas como eles povoam a terra com seu “amor animal”, enchendo a terra de filhos

por Andri Carvão
Vizinha da frente
Sem um dente
Na frente avera
Maria parideira
Dá no mato
Bem gostoso
E seu esposo
Vem cá te cato
E dessa maneira
Maria parideira
Fez a escadinha
Desce a lenha
Venha
Dessa linha
Dessa linhagem
Do amor a sacanagem
Maria parideira
Vida inteira
Mulé
Do seu Zé
O homi das côve
Me ove
Estaciona a carriola
E tira a bitola
Larga mão
Seu Zé
Parece Mané
Então
Bora po mato
Vixe ave
Fazer de quato
Preciano as árve
Estala o dedo
Que medo
E toca Maria
No fim do dia
Fazer um fio
Mesmo no frio
Com seu Zé
Então né
Seu Zé das côve
Se comove
Cabra arretado
Coitado
No jogo
Não nega fogo
Pau pa toda obra
O homi é uma cobra
Bate nas calça
Pá tirar a pueira
A vida num é valsa
É catingueira
Estaciona o carrinho
E toca po ninho
Com dona patroa
Ê vida boa
Passarada
Em revoada
Bicharada
Em disparada
Amor animal
Amor natural
Fazer filharada
No mei do matagal
E nessa moda
Nessa toada
De foda em foda
Uma ninhada
Maria parideira
E Zé das côve
Numa parideira
Comendo côve
Parido o Décimo
Fizero o Ônzimo
Não mango
De Maria parideira
No tangolomango
Dessa escadinha
Deus apadrinha
A família inteira
Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, o autor tem diversas publicações online e antologias. Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books, 2018] e Poemas do Golpe [editora Patuá, 2019] são as suas mais recentes publicações.