#FlautaVertebrada: “Mesmo no tumulto / Das capitais / Nesse eco que consome o silêncio / Como fogo derretendo o plástico / Nas multidões barulhentas / A solidão ainda reina”

por Fernanda Noal
É solitária a estadia entre os homens
É um misto de abismos
Eufemismos em conflito
Pensamentos distorcidos
Possibilidades corrompidas
Por medos ilusórios
Inseguranças e traumas
Histórias não escritas
Palavras não ditas
Pessoas contidas
Enfiadas em suas embalagens
Demasiadamente solitárias
Mesmo no tumulto
Das capitais
Nesse eco que consome o silêncio
Como fogo derretendo o plástico
Nas multidões barulhentas
A solidão ainda reina
Quando andamos a olhar os próprios pés
Quando ao avistar a dor do outro
Não nos dá uma fisgada no peito
Uma vertigem qualquer
Uma pontada de tristeza
Por não poder ajudar
Aquela dor a passar
É solitário viver entre os homens
Que nunca tiveram a pretensão
De mudar o mundo
De abraçar todos os homens
Pelo menos por um segundo
É tão solitário projetar um futuro
Em que seremos ainda mais sós
Do que já somos
Mais estranhos e alheios
Uns aos outros
Do que já estamos
Prefiro pensar e idealizar
Um amanhã diferente
Em que a solidão
Seja só aquela da gente
Mastigando os pensamentos
Conhecendo a si mesmo
Sem deixar
De ter empatia
Por cada pessoa, bicho ou planta
Que compartilha conosco
Desse espaço
Minúsculo e vão
De existência
Mesmo que por ora
Pareça só um devaneio
Marcado pela impossibilidade
De ser realizado
Me permito o conforto absorto
De ainda assim
Sonhá-lo.
Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017.