Desespero romântico I | por Felipe Mendonça

#FlautaVertebrada: uma evocação da lua e seus símbolos poéticos típicos, a “intrusa” entre os amantes invade o quarto do poeta pela janela

Imagem: Peratek
por Felipe Mendonça

Ó
Lua, luna
Lunática,

Dize-me
Que sou tua
À minha carne nua.

Desce, te conjuro,
Errática,
Sobre seio perjuro.

Não me venhas
Com tanta gente
Que te olha descrente,

Não me venhas
Com reles vidas,
Ruas e avenidas.

Vem, difusa,
Lua prolixa,
Dos amantes, intrusa.

Ó
Lua, luna
Hierática,

Vem e mente,
Inunda meu quarto
Profundamente.

Dize-me algo!
Mas, nada dizes
Sorumbática.

Surja-me alva!
Mas, me apavora,
Fantasmática,

No meu quarto
Após parir-me
Um lagarto,

Lua réptil
A devorar-me
Autofágica…

 

Felipe Mendonça é poeta e ensaísta brasileiro, nascido em 1976, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, que cresceu no Rio de Janeiro no bairro da Ilha do Governador. Hoje vive em Belford Roxo/RJ. É mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Administra um blog de poemas chamado “Poesia, necessário pão” em que publica poemas de sua autoria, tendo publicado em 2018, pela Chiado Books, um livro de poemas intitulado “Reescritos”.

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