[das esperanças] | por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: poema inédito, sobre as “esperanças que vi sobrevoarem / o brasil por mais de uma hora e meia” com o discurso de Lula diante do caos pandêmico no Brasil

Imagem: Kranich17 / Pixabay
por Helena Arruda

eu queria falar das esperanças pousadas nas vidraças
brasileiras,
antes de baterem as asas, em revoada,
assustadas com os tiros desferidos
pelas mãos ensaguentadas da opressão.
eu queria falar das esperanças escondidas na memória
: aquelas que guardamos de quando era possível
viver em liberdade
e a democracia era nossa única possibilidade.
eu queria falar das esperanças que ainda dormem em nós,
as que serão despertadas nas próximas eleições,
as que coloriam de verde, amarelo, azul e branco
o futuro da nação,
hoje, acuada, amontoada, sem respiração.
eu queria falar das esperanças que vi sobrevoarem
o brasil por mais de uma hora e meia,
entrando pelas telas da tv e
pousando suavemente sobre nossos olhos
mortos de indignação.
eu só queria falar…

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020).

 

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