Corpo-cicatriz │por Helena Arruda

#FlautaVertebrada: “Moro em cada corte do caminho: / no meu ventre, nos meus seios / no meu assoalho pélvico / nas minhas entranhas, na minha voz.”

Imagem: Tumblr
por Helena Arruda

meu corpo-mundo é conquista diária, 

ponte entre a natureza e o caos:

desejo-essência-sofrimento-luta.

[resistência]

moro em cada corte do caminho: 

no meu ventre, nos meus seios, 

no meu assoalho pélvico,

nas minhas entranhas, na minha voz.

meu corpo, cartografia de quereres, 

é um mapa, 

paisagem milimetricamente desenhada,

cicatrizes que dão a exata direção: 

rios e montanhas e

mares e oceanos e

planícies verdejantes e 

areias quentes e

vales profundos para sempre tatuados por um bisturi,

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para estancar minha dor 

[não estancou]. 

meu corpo-cartográfico hoje é pele suada por seus sais,

palmilhado por suas mãos generosas, calmas.

corpo demarcado por seus beijos e 

guarnecido por suas palavras macias, amáveis.

[corpo-multidão].     

 

Helena Arruda nasceu em Petrópolis. É mestra e doutora em Literatura Brasileira (UFRJ). Poeta, contista, ensaísta, é autora dos livros Interditos – poemas (2014); Mulheres na ficção brasileira – ensaios (2016), ambos pela Editora Batel; Corpos-sentidos (2020), Editora Patuá; Suas publicações mais recentes constam em Ficção e travessias: uma coletânea sobre a obra de Godofredo de Oliveira Neto (7Letras, 2019), Ato Poético (Oficina Raquel, 2020) e Ruínas (Patuá, 2020). Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quintas-feiras.

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