Conspironildo denuncia o sol do meio dia

uma crônica de William Dunne

Dia quente, céu azul. O relógio bate quase meio dia. Algumas pessoas já começam a sair para almoçar pelas ruas da cidade, no intervalo de seus serviços. Conspironildo assiste a tudo atentamente. Apesar do calor, esconde-se atrás de árvores e postes usando um longo sobretudo preto, óculos escuros e chapéu. Um par de colegas de trabalho comenta, “que sol maravilhoso, uma piscininha agora, hein?” Conspironildo olha para os lados, apanha cautelosamente um caderninho no bolso e toma notas. “Hum, sol maravilhoso, ãh?”, pensa.

Em busca de mais evidências, Conspironildo se esgueira no meio da multidão. Uma criança de uns 8 anos, carregando um balão, aponta o dedo para o céu e diz: “olha, pai, não tem nenhuma nuvem. Só o sol, brilhando sozinho no meio do céu”. A observação não escapa aos ouvidos e olhos vigilantes do incansável espião, que novamente toma nota.
Mal termina sua última nota, e Conspironildo ouve o tiozinho que vende água na esquina gritar: “oooolha a água geladaaa, doooois reaaais, geladinha pra rebater esse solzão pelando”. É mais um pouco de tinta gasta da caneta do nosso herói.

Mais tarde, Conspironildo publica na Internet seu relatório, com as conclusões que tirou durante sua investigação. Sob o título “complô do sol inventa o calor do meio dia” Conspironildo denuncia, doa a quem doer, uma rede de intrigantes, envolvendo até crianças e o tiozinho da água, para disseminar a insidiosa tese de que o sol do meio dia no céu limpo seria quente. As provas da tramoia são definitivas: estavam todos falando a mesma coisa, mancomunados para espalhar a crença na alta temperatura.

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