#FlautaVertebrada: “Perdoa as lágrimas que não escolhem a hora de se esconder / E os sorrisos que demoram tanto a aparecer”

por Fernanda Noal
Perdoa esse grito rouco
Esse olhar assustado
Perdoa esse andar perdido
E esses ombros acuados
Perdoa não saber guiar passos
Não entender do voo dos pássaros
Perdoa esse sentir desajustado
Esse lamento calado
Perdoa tudo que não sei verbalizar
E o que verbalizo errado
Não sei dos ventos que te sacodem
Nem das geleiras que prenderam teus sonhos
Tampouco sei das dinamites que te explodem
Pouco a pouco
Retalhando consciências
Pontuando reticências
Forçando pousos
Perdoa as lágrimas que não escolhem a hora de se esconder
E os sorrisos que demoram tanto a aparecer
Perdoa os cansaços dos recomeços
E a ausência dos aconchegos
Todas as pedras que escondem abrigos
Todas as paisagens que camuflam perigos
E os abismos que parecem rasos
E de perto são infinitos
Como teus olhos
E os meus
Como o que há além de nossas retinas
Perdoa não saber interpretar
Silêncios
Gritos
Perdas
Voos
Fugas
Pousos
Abismos
Recomeços
E infinitos.
Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às quartas-feiras.