Castigo aos tartufos | por Felipe Mendonça

#FlautaVertebrada: um poema dedicado a cada um dos 61 filhos da puta que votaram no Senado Federal a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff

Imagem: Everett Collection
por Felipe Mendonça

Este poema é inspirado no “Le châtiment de Tartufe” de A. Rimbaud e é dedicado aos 61 filhos da puta que votaram no Senado Federal a favor do impeachment de Dilma Rousseff.

Atiçam, atiçam,
Com mãos enluvadas,
Por baixo dos panos
E de moles gravatas,
A boca a expelir
Mentiras e babas.

E como o fazem felizes,
Decretando que todos
Devemos ser
Uma nação de tolos
E de infelizes.

Mas, chega o malvado,
O gauché, o poeta
Intemerato
E lhes arranca
As vestes negras
De suas carnes velhas
Repletas de pecados
E peculatos.

Mas, eles não
Ficam pálidos,
Não perdem a cor,
Ao contrário,
Balançam as coisas
Sem nenhum pudor.

A nudez já não é,
Para eles, castigo,
Muito menos,
A homens tão lascivos,
Arrancar-lhes apenas
O colarinho,

Pois fazem orações,
Mas não têm fé
E sempre estiveram nus
Da cabeça aos pés.

Ninguém os ameça
E tomam parte
Em cultos e missas,
Porque sabem
Que os paladinos da justiça
Não passam de covardes
Que participam desta farsa.

Por isso, o poeta,
As putas e as bichas
Não querem apenas
Arrancar-lhes as vestes,
Sujar a lapela,
Calar a voz e as preces
Destes hipócritas levitas,

Não só lhes retirar as calças,
Mas lhes arrancar as pregas,
Castrar decrépitas bengalas
E deitar fora as ideias velhas
Que escravizam a alma;

Não só lhes retirar as máscaras,
Mas lhes quebrar as caras
E mandá-los à forca e às favas,

Para nos livrar dos hábitos mais vis
Que mantêm todo o meu país
Nas mãos de torpes corruptos
E baixos tartufos.

 

Felipe Mendonça é poeta e ensaísta brasileiro, nascido em 1976, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, que cresceu no Rio de Janeiro no bairro da Ilha do Governador. Hoje vive em Belford Roxo/RJ. É mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Administra um blog de poemas chamado “Poesia, necessário pão” em que publica poemas de sua autoria, tendo publicado em 2018, pela Chiado Books, um livro de poemas intitulado “Reescritos”.

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