#FlautaVertebrada: “e a turma a horda a gangue toda / invade nas pontas dos pés / e ocupa o chão da sala. Com a tevê no volume mínimo / começamos o campeonato de Atari / sem um / pio”

por Andri Carvão
De pé
de carona na Monark
segurando nos ombros do Lu ou do Gazu
superseguro
num rolê pelo bairro e pela vila vizinha
enchemos um saco
com duzentos cartuchos de jogos emprestados.
Minha mãe assistindo a Hebe,
a abertura do programa mais dez minutos e já era no sofá
– apagou com a tevê ligada.
Abro a porteira da goma
e a turma a horda a gangue toda
de moleques da rua
invade nas pontas dos pés
e ocupa o chão da sala. Com a tevê no volume mínimo
começamos o campeonato de Atari
sem um
pio.
Uma dúzia de tarados revezando nos controles:
Pac Man [ou Come Come].
Enduro. River Raid. Seaquest.
Frost Bite [ou Gelinho]. Pitfall.
Freeway [ou Galinha Atravessando a Rua].
[a punheta do] Decatlon. H.E.R.O.
Demon Attack. Frogger [ou Sapinho].
Megamania. Moon Patrol. Space Invaders.
Keistone Kapers [ou Ladrãozinho no Supermercado].
A dona da pensão acorda altas horas,
meia-noite e meia passada,
e dispersa a molecada
como uma loba num galinheiro.
Dia seguinte
os donos vêm reaver seus cartuchos. Mas
mesmo depois de entregar todos
[o saco vazio]
não para de aparecer mais moleques em casa.
Faltou cartucho pra tanto tonto.
Faltou cartucho pra tanto trouxa.
Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, o autor tem diversas publicações online e antologias. Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books, 2018], Poemas do Golpe [editora Patuá, 2019] e Dança do fogo dança da chuva [editora Penalux], entre outros. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às terças-feiras.