A chef alertava sobre o perigo de comer junk food; daí, vem uma brincante, formada em nutrição, blogueira das comida e disse que a chef estava reforçando gordofobia

por Anderson França
Olha como é o Twitter, barra, essa geração de condomínio bacana:
Uma chef argentina que mora no Brasil, uma mulher feita, com carreira e competência em dia, opinião política afiada, leitura de mundo, raça e gênero no talo, disse que não curtia nuggets do KFC, nessa experiência ultraprocessada de impressora 3D de comida. É, os caras estão IMPRIMINDO NUGGETS. Uma pausa pra dizer que a chef é argentina. Com isso, até o momento dois países estão metendo 7 a 1 no Brasil: Alemanha e, com o Papa, o presidente deles, o controle da Covid em 2 mil óbitos, o Alfajor, o Che Guevara e a chef, a lista de países que metem 7 a 1 no Brasil aumentou e inclui a Argentina.
Volta: Ela disse que preferia comida de verdade, e que fast food tornava as pessoas obesas. De fato, obesidade é um conceito MÉDICO, CLÍNICO e não associado a fator cultural. Na sala da endócrino, no clínico, quando um profissional da saúde fala “obesidade” ele está se referindo a um conjunto de fatores que determinam a presença de uma DOENÇA, porque obesidade é uma doença. Mas a chef, conhecida no Brasil e no mundo, alertava sobre o perigo de comer junk food, de dar isso pra crianças e principalmente, batia legitimamente no KFC que é uma empresa do ramo de junk food. Daí, VEM UMA BRINCANTE, do outro lado do campo. Gata-garota, formada em nutrição, blogueira das comida e das saúde. Estranhamente, profissional da saúde. Jovem, classe média, privilégio, se formou em nutrição com a grana dos pais. Tuitera. Disse que a chef estava reforçando gordofobia. Assim. DCE style.
Eu vou parar aqui. Porque o resto do episódio foi uma bosta. A chef tentando se explicar pra um Twitter cheio de criança gritando, e a nutri novata mandando beijo de luz diante da fama espontânea. Na maior cintilância. Um nojo real. A vitória da provocação semântica de 140 caracteres sobre a construção competente de uma chef e migrante. Mulher, chef, comunicadora, zero arrogante, apoia pauta antirracista, se mantém com o próprio trabalho, voz relevante contra esse governo. O que é a leitura com gatilho, ou sem interpretação do outro? Não da palavra do outro, mas da palavra e da intenção do outro.
A chef não é gordofóbica, ou não é MAIS QUE QUALQUER UM DE NÓS, porque, opa: todos somos ensinados a desenvolver gordofobia. Eu perdi 40 quilos me tratando do diabetes e sei muito bem o que é ser aceito agora, e não antes. Então, a linguagem é o conjunto palavra + intenção. “Viado” pode significar uma coisa em Curitiba, e outra na Maré. Todos os meus amigos eu chamo de viado e eles a mim. Isso é um exemplo. Palavra/intenção. Mas você lê com sua bunda. E precisa colocar aquele toque cretino e cínico de revisão politizada do DCE na pessoa. E fodace o que vai acontecer com ela.
Pessoas foram diretamente encorajadas pela nutri a humilhar a chef. E disseram uma frase pra ela que, quando ouço em Portugal, acho um esculacho: “vai embora pro seu país”. Como a gente vai reclamar da xenofobia gringa, se nós falamos isso? Hoje, HOJE, em Lisboa, um homem branco ASSASSINOU a tiros um jovem negro depois de dizer a ele: VOLTA PRO TEU PAÍS. Ah, mas eu só fiz um comentário, eu não sou linchadora, canceladora. É. E encorajou pessoas, no Brasil odioso de 2020, a falarem merdas pra ela. Mesmo que ela, com sua críticas certíssimas aos nuggets, estivesse condenando a INDÚSTRIA DO JUNK FOOD, o problema deixou de ser o KFC e passou a ser a chef.
E a nutri tilelê, tá feliz porque tá famosinha. Vai gravar video, vai vender atendimento. Como o Twitter só tem gente com idade mental até 8 anos, tá todo mundo chamando a Chef de gordofóbica. E sepá, com esse texto vai se cravar vítima. Pergunto: última vez que você deu gostoso pra um gordo, ou transou delicia com a gorda, ou mesmo, CONTRATOU uma pessoa gorda? Ou tem amigos. Ou alguém que na tua vida seja respeitado para além de PACIENTE com o qual você pode ganhar dinheiro. Vassoura bezuntada de areia no cu dos outros é chá gelado com folha de hortelã, querida. Internet é isso aí. Gente porca, por todos os lados. Muitos de vocês, monte de canalha, filho da puta. Por isso me chamam de tudo que é nome, porque eu pelo menos mando tomar no cu, e bloqueio. A chef tem grandeza, não vai fazer isso.