#FlautaVertebrada: “uma ode a dois na qual tu gemas versos de indelicadezas sensuais e meus ais pronunciem o desejo de mais uma página”

por Sergio Rocha
Quero teu corpo como a um livro que eu escreva não com as palavras que nasçam em mim, mas com as súplicas dos anos em que deixamos de sonhar; talvez não queira escrevê-lo, mas lê-lo em segredo de criança, ouvir-lhe as entrelinhas sussurradas, desvendar-lhe os versos nas pontas dos meus dedos literatos e pacientemente participar de uma ode a dois na qual tu gemas versos de indelicadezas sensuais e meus ais pronunciem o desejo de mais uma página. Quero escrever-te como a um jornal diário dizendo-te além do amor todas as paixões em seções inesperadas, paixões escritas e inscritas na imensidão que olhas perdida quando a pontuação evidencia pausas e respirações, quando os parágrafos altercarem não ideias, mas a cidadela sitiada entre os montes da minha inspiração. Também preciso que me escrevas no vão retido tênue da almave migratória que fazes voar todo mês, nave-mãe de sóis criados à sorte dos dizeres descabidos, poema em si despido de palavras exatas, incontida senhora das horas em que me amarras à sombra de tuas coxas poderosas e me sufoca com teus sufixos sulcados às minhas costas. Então o recuo ante o final; mais um capítulo ao tantra, mais um paraíso de algodão amarfanhado pelas mãos, mais um tremor espalhando letras pelo chão.
Sergio Rocha, paulistano dos altos de Santana, escritor, poeta, jornalista (de)formado pela Filosofia, mas principalmente pai da Mariana, Fernanda, Giovana e avô do Ravi. Tem dois livros publicados, “Terceiro fragmento”, J. Andrade Gráfica e Editora, 2012, Aracaju/Se e “Um poema depois da chuva”, Rusvel-Triver Studio e Editora, 2018, São Paulo/SP. Vem participando de várias antologias impressas e virtuais. Organiza o Sarau Santa Sede, ministra oficinas de criação literária e é editor na Casa Editorial Livrará. Escreve n’O Partisano quinzenalmente aos sábados.