A mosca | por Andri Carvão

#FlautaVertebrada: “Na praça o cachorro tomou um baile das pombas em revoada. / O gato saltou do muro para o telhado.”

Imagem: ROverhate

por Andri Carvão

O cachorro mijou no hidrante.
O cachorro mijou no pneu do carro.
O cachorro mijou no poste.
Postou e saiu correndo.
A pomba bombardeou a cabeça do careca.
A pomba bombardeou a estátua de Francisco de Assis.
A pomba branca cagou preto no carro branco.
A pomba preta cagou branco no carro preto.
O gato enterrou as fezes no jardim.
A gata devorou a própria ninhada.
O gato se esticou, se espreguiçou e se enovelou para voltar a dormir.
A gata ronronou.
O gato cortou as patinhas no muro com cacos de vidro.
A gata engatou.
Na praça o cachorro tomou um baile das pombas em revoada.
O gato saltou do muro para o telhado.
A gata se enrolou entre as pernas do velho.
O velho jogou milho para os pombos.
O cachorro balançou o rabo com a língua de fora.
O velho fez festinha na cabeça do cachorro.
O gato deitou na barriga do cachorro.
O cachorro rosnou e o velho o repreendeu.
Para, cara!
Quem é o poeta na fila do pão?
A poesia é a mosca no cocô do cavalo do bandido.

 

Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, o autor tem diversas publicações online e antologias. Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books, 2018], Poemas do Golpe [editora Patuá, 2019] e Dança do fogo dança da chuva [editora Penalux], entre outros. Escreve n’O Partisano quinzenalmente às terças-feiras.

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