A mim de mim | por Fernanda Noal

#FlautaVertebrada: “aos que caminham comigo / aos que caminham sozinhos / aos que ainda não caminham / aos que perambulam pelas sarjetas / aos que não escondem os rostos”

Imagem: Fran_kie
por Fernanda Noal

não sei em quais palavras
me guardo
em quais metáforas
me escrevo
tentando compreender
onde me encaixo
onde me perco
e não sei dizer
ao menos
a mim
de mim
nem mesmo
o que me cabe
ou o que me sobra
o que transcende
meu sentir
o que transborda
meu pensar
o que me pesa os ombros
ou alivia a tensão
dos meus músculos
e tudo o mais
que não tem nome nem morada
e mesmo assim me habita
e me nomeia
que não tem pé e nem estrada
e mesmo assim me transita
e me passeia
me obriga a desviar
e diminuir nas minhas próprias curvas
e tudo o mais
a que não me curvo
e não aceito
mas presenteio
com meu desprezo
vomito, desmaio
só de lembrar
que o mundo fora de mim
é tão injusto
e sombrio
é tão perigoso
aos que caminham comigo
aos que caminham sozinhos
aos que ainda não caminham
aos que perambulam pelas sarjetas
aos que não escondem os rostos
nem os ideais
e tudo o mais
que continua sendo menos
cada dia menos para nós
cada vez mais me sinto menor
em meio ao caos
me sinto incapaz
de me descrever
ou encontrar
algo em mim
que pertença a esse mundo
que desconheço
e nem desejo conhecer
apenas transitar
em paz
sem interferência
sem medo
sem repulsa
apenas respirar
ar puro
mas por enquanto
cada vez mais
me sinto sufocar.

 

Fernanda Noal é gaúcha e mora atualmente no interior paulista, em São Carlos. É artesã de linhas metafóricas e literais. Participou pelo Projeto Passo Fundo das Coletâneas de Contos de 2013 e 2017, e das Coletâneas de Poemas de 2013, 2015 e 2017.

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