A memória das vazantes | por Sergio Rocha

#FlautaVertebrada: “Esqueço a luz adormecida com a tarde viro-me deixando o livro empoeirado cair no piso de tacos tão velhos como sonoros”

Imagem: wal_172619
por Sergio Rocha

Então fico a ver navios naufragados
tão mais velozmente
que os meus sentidos consigam buscar num sumiço de horizonte distante
(arregalo olhos de solidão e calo diante do imenso fosso esverdeado).
Semblantes pouco críveis
desesperançados de rugas e sonhos em pedaços acumulam-se ao meu lado também fixados na profundidade que se alarga e esgarça mais e mais o sentido que dávamos às estórias antes dessa precipitação.
Precipito-me encarando o próprio Poseidon e seus amores em descalabro e só depois de arrancado da areia e arremessado de volta à realidade é que percebo Cila e Caribdes abocanhando das pedras os poucos e tristes pescadores de almas.
Esqueço a luz adormecida com a tarde
viro-me deixando o livro empoeirado cair no piso de tacos tão velhos como sonoros e na linha tu insistes em perguntar por que durmo tanto o dia todo e tudo o que digo é que só assim lanço garrafas ao mar
só assim pressinto o que de mim se afoga na falta de ar que do outro lado respiras.

 

Sergio Rocha, paulistano dos altos de Santana, escritor, poeta, jornalista (de)formado pela Filosofia, mas principalmente pai da Mariana, Fernanda, Giovana e avô do Ravi. Tem dois livros publicados, “Terceiro fragmento”, J. Andrade Gráfica e Editora, 2012, Aracaju/Se e “Um poema depois da chuva”, Rusvel-Triver Studio e Editora, 2018, São Paulo/SP. Vem participando de várias antologias impressas e virtuais. Organiza o Sarau Santa Sede, ministra oficinas de criação literária e é editor na Casa Editorial Livrará. Escreve n’O Partisano quinzenalmente aos sábados.

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