Tucanos devem ter espaço no movimento contra Bolsonaro?

O PSDB é, historicamente, desde FHC, o principal opositor ao PT. Perdeu essa posição por ele mesmo apoiar e alimentar a extrema direita

por Paulo Coelho

A polarização de que tanto se fala no Brasil não começou hoje e não se trata simplesmente de quem é a favor do impeachment e quem é contra (como pareceu ser na época da Dilma). A polarização é, querendo ou não, gostando ou não, em suma, quem é a favor do governo do PT e quem é contra. Pode parecer estranho, pois muitos que participam com o PT se colocam como “oposição de esquerda” ao PT ou coisa do tipo, mas sabe-se que na realidade não têm a menor possibilidade de formarem um governo.

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O impeachment da Dilma foi isso, a prisão do Lula foi isso, a eleição do Bolsonaro foi isso, e agora o impeachment de Bolsonaro, em última instância, é a mesma coisa. E o PSDB, que hoje quer participar das manifestações contra Bolsonaro, não é um agente qualquer nisso. O PSDB é, historicamente, desde FHC, o principal opositor ao PT. Perdeu essa posição por ele mesmo apoiar e alimentar a extrema direita. Querer aceitar numa boa a participação de quem é contra tudo o que a gente defende, e só abandonou o Bolsonaro por ser racionalmente indefensável, não é só difícil, é um contrassenso.

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“Ah, mas isso vai atrapalhar o impeachment”. Pra ser sincero, difícil saber se o impeachment faz muito sentido ou se é realmente viável. Como algo em si, sei que não faz sentido nenhum. Tirar o Bolsonaro para o Mourão ou o Arenão governar até a eleição? Com muita sorte, a única coisa boa que vai sair daí é uma política um pouco mais coerente de combate ao Covid. Se dermos sorte.

Mas o impeachment poderia ser o estopim para algo maior, como antecipação da eleição, ou a convocação de uma constituinte. Ambas opções que se pode levantar, mas não parece haver muita possibilidade e sequer indicações neste sentido. Por isso, também, não faz muito sentido ser cordial com tucanos “manifestantes”.

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Se tivessem uma influência popular real, o natural seria que fizessem um movimento deles, onde o MBL poderia ostentar novamente seus carros de som milionários, Frota poderia desfilar alegremente no meio da multidão, etc. Não precisariam ter que se submeter a participar de uma manifestação com “gente diferenciada” de uma ocupação urbana, de um acampamento do MST e nem mesmo da temível e odiável cor vermelha. Mas o poder de mobilização de “massa” limpinha e cheirosa talvez tenha ficado com Bolsonaro.

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E, finalmente, um impeachment com uma mobilização de direita, seria ótimo para o PSDB e o Arenão. Poderiam legitimar o governo sinistro que se formaria até as eleições. Se são capazes de sequestrar o ato? Parece difícil, teria que haver muita mudança, infiltração e, sobretudo, conivência de um setor importante da esquerda. O que também não seria nenhuma novidade.

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