A derrota de Trump foi fruto de uma ampla mobilização eleitoral, que levou a uma participação recorde de quase 70% dos eleitores, a maior desde as eleições de 1900

por William Dunne
A campanha do candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, acaba de divulgar uma declaração em que responde à possibilidade de Donald Trump, republicano que concorre à reeleição, não reconhecer sua iminente derrota nas urnas. A declaração diz que: “O povo norte-americano decidirá essas eleições. E o governo dos EUA é perfeitamente capaz de conduzir intrusos para fora da Casa Branca”. O espetáculo eleitoral continua nos EUA, com lances grotescos dignos da decadência do império e do atual mandatário, que agora corre o risco de ser despejado à força da residência oficial do governo.
Ontem, Trump não reconheceu sua provável derrota (naquele momento), e constestou os votos feitos pelo correio que estavam estreitando sua vantagem nos estados da Geórgia e Pensilvânia. Hoje Biden já virou o jogo nesses dois estados e sua vitória já se tornou praticamente certa. Diante disso, a extrema-direita tem alimentado as mais audaciosas teorias da conspiração para contestar o resultado que expressa a rejeição da maioria ao governo.
Mobilização para votar
A derrota de Trump foi fruto de uma ampla mobilização eleitoral, que levou a uma participação recorde de quase 70% dos eleitores, a maior desde as eleições de 1900 (quando o eleitorado era bem menor e restrito, antes ainda do voto feminino). A vantagem de Biden no voto popular já chega a quase 4 milhões de votos, e mesmo no colégio eleitoral, com as viradas na Geórgia e Pensilvânia, a diferença deve ser grande.
Radicalização
Trump, no entanto, despertou a extrema-direita de modo que não deverá ser passageiro. Conforme Jones Manoel avaliou em entrevista a O Partisano mês passado, “o sistema político dos Estados Unidos entra numa crise de legitimidade muito grande.” A legitimidade não foi preservada com Barack Obama nem recuperada com Trump. Essa instabilidade deve continuar, com uma polarização mais intensa e radicalização da esquerda e da extrema-direita. O papel do governo Biden será tentar apaziguar os ânimos nesse contexto, o que pode se revelar uma tarefa impossível. A própria desorganização dessas eleições e a crise institucional alimentada de dentro da Casa Branca nesse momento dão uma boa ideia disso.
