Sinal de fumaça: Porto Alegre terá um colapso funerário?

Domingo, uma espessa camada de fumaça preta saindo de uma funerária assombrou moradores da capital do Rio Grande do Sul, que vive um caos de alastramento do coronavírus

Imagem: Twitter
por Bibi Tavares

Na tarde do último domingo (21), quem passou pelos arredores da Av. Porto Alegre, no bairro Medianeira, em Porto Alegre, se deparou com uma espessa camada de fumaça no ar. A origem do incidente se deu no Crematório Ângelus e gerou uma série de especulações na internet sobre uma possível sobrecarga no sistema de cremação devido ao excesso de mortes por Covid-19. Alguns vídeos e imagens do local mostram a fumaça sendo vista de longe:

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Desde o dia 27 de de fevereiro, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, decretou fase preta no estado, ampliando as medidas de restrição na tentativa de conter o rápido avanço no número de mortes por coronavírus. Assim como em São Paulo, no RS também foi aplicado o toque de recolher entre 20h e 5h da manhã. O sistema de cogestão também foi suspenso e todos os municípios do estado devem adotar as medidas mais rígidas de restrição. Todo esse cenário de dezenas de mortes acontecendo num curto período de tempo sustentam a tese de que a fumaça do crematório se deu pelo excesso de trabalho dos fornos, já que no processo normal não há fumaça visível.

Ao Partisano, o diretor do crematório Ângelus, Ary Bortolotto, explicou que a nuvem de fumaça foi produto de “uma pane que desligou o forno” e que foi o primeiro incidente em dois anos e meio de operação, durando apenas 10 minutos:

“Todo forno crematório tem duas câmaras, uma primária, onde se dá a queima e uma secundária, onde os gases são processados com temperatura acima de 800 graus. Se esta câmara secundária parar de funcionar durante a cremação, vai expelir pela chaminé fumaça. O que ocorreu foi uma pane que desligou o forno, e até que o operador tomasse as medidas necessárias, a câmara secundária ficou desligada, causando a fumaça. Todos estes fornos no Rio Grande do Sul são monitorados pela Fepam e são equipados com aparelhos que monitoram a emissão de poluentes (CO, O2) durante todo o processo.”

Bortolotto também contou que, comparando o mês de março de 2020 e de 2021, houve um aumento de 125% no número de corpos cremados no Ângelus POA, fruto do aumento no número de óbitos por Covid-19.

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Um possível colapso no sistema funerário

Pelo Twitter, algumas pessoas suscitaram o debate sobre um possível colapso no sistema funerário brasileiro. Mesmo que a pane no Ângelus possa não ter sido fruto de um aumento considerável no uso diário dos fornos, a hipótese é plausível quando se olha para os números. Em alguns tweets, encontra-se, inclusive, comparações com os campos de concentração da Alemanha nazista. Auschwitz, por exemplo, queimava os corpos dos judeus assassinados em massa, expelindo a fumaça por chaminés.

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No Brasil, a indústria da morte de Bolsonaro prospera graças à política de desinformação e sabotagem do governo. Coincidência ou não, o Rio Grande do Sul deu pouco mais de 63% dos votos para o atual presidente, o mesmo que chegou a questionar em dezembro o porquê da pressa para a aprovação da vacina.

No ano passado, pouco depois do início da pandemia no Brasil, rapidamente o sistema funerário deu indícios de que estava trabalhando em capacidade máxima. Em abril de 2020, os cemitérios públicos de São Paulo estavam fazendo cerca de 40 enterros por dia de pessoas que morreram de Covid-19 ou que estavam com suspeita de contaminação.

O ápice aconteceu em maio do ano passado, na época, pelo menos 8.360 corpos de vítimas do coronavírus foram enterrados, incluindo cemitérios particulares e cremações. Depois de seis meses de baixa nesses números, agora São Paulo volta ao topo, assim como todo o Brasil. Na região de norte de Campo Grande, o cemitério São Sebastião precisou ampliar sua capacidade e está abrindo mais mil covas no local, segundo a Secretaria de Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos. Em hospitais lotados do Distrito Federal, corpos de vítimas da Covid estão sendo deixados no chão. Pelos menos 400 pessoas estão aguardando leitos de UTI, diante disso o governo do DF decretou estado de calamidade pública.

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O mesmo caso em Los Angeles

Em janeiro deste ano, a South Coast Air Quality Management District, agência do governo estadunidense que monitora os índices de poluição e qualidade do ar no país, soltou uma ordem executiva que suspendeu durante 10 dias as normas de qualidade do ar de Los Angeles. A causa? Uma quantidade exorbitante de corpos vítimas de coronavírus para serem cremados.

Em contrapartida, após vacinar mais de 100 milhões de estadunidenses, os EUA conseguiram reduzir a média de novos casos de Covid-19 em 78%. De volta ao caso brasileiro, o fato é que o sistema de saúde do Brasil está colapsado. Seja no âmbito público ou particular, os hospitais não têm mais espaço, muito menos leitos de UTI, para tratar seja de coronavírus, seja de qualquer outra doença.

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Ao passo que Jair Bolsonaro questiona a eficácia do uso de máscara, coloca-se contra o isolamento social, lockdown e debocha do sofrimento do povo, novas cepas mais perigosas do vírus se desenvolvem nesse laboratório a céu aberto que se tornou o Brasil. Se o sistema de saúde colapsa, o sistema funerário também.

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